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domingo, 19 de dezembro de 2010
MUNDIAL DE 1914: COMO EVITARMOS O DESASTRE ANUNCIADO?
Lamento informar, mas o Brasil não é o favorito para o Mundial da Fifa de 1914. Longe disto.
Não tem mais a melhor Seleção, nem as melhores equipes, nem mesmo os melhores jogadores.
É uma constatação amarga, mas inescapável, para mim.
Eu estava só com sete anos quando conquistamos a primeira Copa do Mundo. Então, nem sequer tive a percepção do que era ocupar posição inferior no futebol mundial.
Com Seleção, Santos e Botafogo dando verdadeiras aulas aos gringos desajeitados e maravilhando o planeta bola, acostumei-me às vacas gordas.
E conquistamos o bicampeonato no Chile, em 1962, com Garrincha como a estrela solitária que brilhou como nunca.
E tropeçamos nos nossos erros, na violência dos europeus e nas arbitragens facciosas em 1966, nos gramados ingleses.
Ficamos com a impressão de que só com armações e antifutebol o velho mundo conseguia evitar que nossa superioridade prevalecesse.
Reforçada quando tivemos nosso maior triunfo, em 1970, no México: vencemos todas as partidas, com direito a atropelar três campeões do mundo em nossa trajetória: Inglaterra (oitavas de final, 1x0), Uruguai (semifinal, 3x1) e Itália (final, 4x1). Melhor, impossível.
Já lá se vão 40 anos desde o nosso apogeu.
Vimos a Holanda revolucionar o futebol mundial com seu carrossel, em 1974.
Vimos Maradona carregar a Argentina nas costas em 1986 como nosso Mané das pernas tortas fizera em 1962.
Ainda saímos vencedores duas vezes nos dez Mundiais seguintes, mas com um futebol pouco convincente (1994) ou tendo a sorte de enfrentar galinhas mortas (2002, quando nosso único adversário de verdade foi a Inglaterra).
Nunca mais formamos equipes como o Santos de Pelé e o Botafogo do Mané. Conquistamos alguns Mundiais, sim, mas sem arrasar...
E chegamos ao fundo do poço em 2010.
Na Copa da África, nem ganhamos nem deslumbramos. Perda total.
No Mundial de clubes, uma zebra nos atropelou, tornando-nos protagonistas de um vexame histórico.
Já não temos craque remotamente equiparável ao melhor do mundo (Messi), nem time que pudesse remotamente encarar o incrível Barcelona.
Praticamos um futebol feio, sem imaginação e de poucos gols, ao contrário do Barça, que chega perto dos 90% de aproveitamento e está marcando mais de três tentos por partida.
Finalmente, despencamos miseravelmente no quesito desportividade, com nosso Brasileirão transformado em farsa, já que clubes grandes entregaram jogos por pirraça no final da campanha, com influência decisiva na classificação final.
Afora o gritante desinteresse de São Paulo e Palmeiras quando enfrentaram, como mandantes, o Fluminense, ainda houve o escracho de o time de Felipão liberar 16 atletas para as férias antes da partida final contra o Cruzeiro. Avacalhação maior, impossível.
Então, em termos técnicos, a tarefa de Mano Menezes será reerguer o futebol brasileiro das cinzas.
Tão carente estamos de um articulador do ataque, desde que as estrelas de Ronaldinho Gaúcho e Kaká se apagaram, que nosso treinador já admite, seriamente, escalar Conca, caso este se naturalize.
Se não, o jeito será torcermos para que o Ganso se torne o supercraque que se adivinhava quando uma contusão o afastou dos gramados.
E não é só um Messi que nos falta, neste momento.
Também temos de incorporar a última grande evolução tática do futebol mundial: a do Barcelona, claro.
É um time que marca o adversário sob pressão no gramado inteiro, busca com volúpia a retomada da bola para, então, trocar passes interminavelmente, com extrema habilidade, enquanto seus jogadores efetuam uma rotação constante para tentarem criar brechas na defesa adversária.
Aí, das duas, uma:
ou algum deles finalmente se desmarca o (átimo de) tempo suficiente para receber o passe certeiro em condições de levar perigo;
ou os craques da equipe desequilibram com lampejos individuais ou jogadas coletivas perfeitas (principalmente as tabelinhas).
É esta receita de futebol ofensivo que teremos de incorporar, se quisermos chegar ao Mundial de 2014 com possibilidade de vencer e convencer.
E está mais do que na hora de voltarmos a decidir os principais campeonatos nos mata-matas, em que cada time lute por si e nenhum seja beneficiado por indignidades alheias (desde o corpo mole para prejudicar rivais domésticos até a escalação de times reservas para priorizar outras competições).
É o que dá para fazermos nesses três anos e meio que temos pela frente.
Não sobra mais tempo para colhermos os resultadas da mudança de conceitos que se impõe na formação dos novos valores: deixarmos de priorizar a competitividade e desestimular os talentos diferenciados, como vimos fazendo, com espantosa cegueira.
Mas podemos, pelo menos, evoluir taticamente e resgatar a credibilidade de nossas competições, depois do Waterloo moral que foi o Brasileirão 2010.
O certo é que estamos no fundo do poço e ameaçados não só de uma derrota como a de 1950, mas de fazermos campanha desastrosa.
Depende de todos -- dirigentes, treinadores, jogadores, comentaristas e torcedores -- reverter este quadro.
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2010/12/mundial-de-1914-como-evitar-o-desastre.html
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