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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

NJR E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA - GLÓRIA KREINZ (CIÊNCIA E POESIA) 2008

http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/catedra/anteriores.html

Século XXI... A divulgação científica está diante do Google, do império das imagens, da soberania da informática e tem que enfrentar uma definição de conhecimento, para saber o que divulgar. O campo da pesquisa é intenso, mas instiga os pesquisadores.

Na época em que se constata a predominância do discurso ótico/imagético na comunicação social, é necessário conhecer e indagar suas formas de concepção e procedimento para melhor utilizá-lo na divulgação da ciência.

É com este propósito que se apresenta a necessidade de ampliação deste campo de pesquisa, tendo em vista aprofundar o corpus das publicações atuais e descobrir quais os mecanismos que oferecem um melhor retorno, em termos de divulgação científica, para a sociedade que ainda acredita nos divulgadores científicos.

O Google, Orkut, You Tube, Blogs, vieram para ficar e auxiliar a divulgar Ciência e Tecnologia neste século XXI. É neste sentido que se trabalha Divulgação Científica no Núcleo José Reis, na ABRADIC e na Cátedra UNESCO José Reis de Divulgação Científica da USP, entidades que carinhosamente chamamos As Três Irmãs e da qual participamos sempre abertos as novas linhas de pesquisa.

Profª. Drª. Glória Kreinz

CIÊNCIA E POESIA
Glória Kreinz

Muitas vezes vamos surpreender José Reis em pleno enfrentamento do problema linguagem/poesia, e uma pergunta nos ocorre. Será que o divulgador científico e jornalista estava preparado para o que pretendia fazer?
Se pensarmos que desde a antigüidade mais remota, conforme discute o cientista Ilya Prigogine, o cientista e o artista andam juntos, cada um completando a atividade do outro, tornando sensível o conhecimento abstrato, responderíamos afirmativamente, que José Reis conhecia os riscos do que pretendia. Mas há outros elementos que completam esta afirmação.
Um dos exemplos da ligação ciência e poesia é encontrada no século 12, quando o astrônomo persa Omar Kayyam escreve versos que até hoje encontram ressonância, como é o caso dos Rubaiyat, compostos de 110 quadras, que discutem a transitoriedade da existência humana, segundo Otto Maria Carpeaux, em sua História da Literatura Ocidental, p.2141.
José Reis nutria grande admiração pelo cientista e poeta persa, mas conhecendo melhor a língua inglesa é através de E. Fitzgerald que José Reis traduz, para a língua portuguesa, 92 quadras que denomina de Meu Rubaiyat. São quadras escolhidas entre as 110 escritas por Kayyam, que o cientista brasileiro julgava as melhores para expressar uma inquietação que também era sua. Diante de um universo que mesmo avançando em termos de conquistas científicas não consegue aplacar a insaciável sede de conhecimento do ser humano frente a própria existência, José Reis assim traduziu o poeta persa:
XLV
A estéril discussão deixa aos sábios formais
E a Luta Universal deixa ao meu coração;
E fica-te deitado em meio à Confusão,
A rir do que de ti pueril brinquedo Faz
XLVII
Ai, se o lábio que beija, e o vinho rubro e ardente
Findam no grande Nada - são tristes bens terrenos!
Pensa que, vivo embora, és hoje tão somente
O mesmo que serás - Nada - nem mais nem menos.
A transitoriedade e a precariedade do homem, num tempo infinito, ficam bem marcadas nestes versos do Rubaiyat, de Omar Kayyam, que José Reis considerava como seus Rubaiyat. Indicam também sua inquietação e constante procura pelo sentido da existência, explicando seus artigos de divulgação científica presos às ultimas descobertas da ciência, procurando esclarecer um pouco mais sobre o sentido da Vida e do Universo, procurando mostrar o mundo movente ao seu redor. Encontramos também temas mais amenos, tratados de forma irônica, inclusos entre as quadras traduzidas por Reis, tais como o amor e o vinho:
O vinho
XLI
Muito embora com Régua e Linha, ou desarmado,
Os problemas do Ser e do Onde haja versado,
Bem certo é que de quanto eu cogitei no Mundo,
Tão somente no Vinho eu fui sábio e profundo
José Reis não traduziu apenas o Rubayyat, mas também seus poetas preferidos como Rilke e Novalis. Trilhando as veredas do fazer poético, conhecia a estranheza a que os caminhos da linguagem conduziam. Sabia, como propõe Heidegger, da interrogação sobre se “estamos na linguagem a ponto de fazermos a experiência de sua essência, de a pensarmos como linguagem, percebendo, numa escuta, o próprio da linguagem”. Foi o grande divulgador científico que nos ensina até hoje: A “ciência é bonita e profundamente estética, por isso devemos exibi-la à sociedade”. Eis Dr Reis no séc XXI.

Um comentário:

  1. OI NADIA, TBM ESTOU AQUI EM AÇÃO E TENHO QUE MOSTRAR O PAPEL DO SARAU NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA...GOSTO DO TEXTO QUE VC COLOCOU...PRECISO COMENTAR MAIS POESIAS DO REIS...PROMETO ISSO...BEIJOS LINDINHA...

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