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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

OS JUDEUS ERRANTES DO 3º MILÊNIO

O judeu errante é um personagem mítico das tradições orais cristãs: um trabalhador de cortume ou oficina de sapateiro que teria hostlizado Jesus Cristo, quando passava carregando sua cruz. Como consequência, foi condenado a vagar pelo mundo até o fim dos tempos, sem nunca morrer.

Hoje, os judeus errantes são os representantes do estado de Israel: estão condenados a vagar pelo mundo sem receberem acolhida amistosa em lugar nenhum, fugindo da justiça, como réprobos da civilização, em decorrência dos massacres perpetrados contra os palestinos.

O paralelo me ocorreu ao ler que uma delegação de militares israelenses adiou visita ao Reino Unido porque seus integrantes temiam ser presos e acusados desses crimes.

Não estou inventando nem exagerando. O próprio vice-chanceler de Israel, Danny Ayalon, afirmou:

"Os militares foram convidados ao Reino Unido, porém permanecerão em Israel até que tenhamos 100% de certeza de que não serão objeto de denúncias judiciais naquele país".

O vice-ministro acrescentou que tentará convencer a procuradora geral britânica Patricia Janet Scotand da conveniência de reformar o princípio de competência universal incluído na legislação britânica, habilitando os juízes do Reino Unido a ordenarem a prisão de personalidades estrangeiras envolvidas com crimes de guerra ou contra a humanidade.

Pressionando descaradamente uma democracia, qual reles lobista, Ayalon insinuou que os interesses britânicos poderão ser alvos de retaliações:

"Esta legislação dá margem a todo tipo de equívocos. (...) Organizações terroristas como o Hamas a utilizam atualmente para tomar como reféns as democracias. É preciso acabar com esta situação absurda, que afeta as excelentes relações bilaterais israelo-britânicas [grifo meu]".

O que está por trás dessas pouco diplomáticas declarações é a ordem de prisão (aceita por um tribunal londrino no mês passado) contra Tzipi Livni, ex-chanceler e líder do partido de oposição Kadima -- um dos carrascos responsáveis pelos genocídios natalinos de um ano atrás na faixa de Gaza, quando o pogrom israelense deixou um saldo de 1.434 palestinos trucidados (incluindo 189 crianças e menores de 15 anos), contra apenas 13 agressores mortos.

Os próprios soldados israelenses, envergonhados e enojados, andaram denunciando as atrocidades que seu estado cometeu.

E o Conselho de Direitos Humanos da ONU publicou relatório no qual acusou Israel de ter usado força desproporcional e violado o direito humanitário internacional, cometendo "crimes de guerra e, possivelmente, contra a humanidade".

Até tenistas de Israel tiveram de disputar a Copa Davis com os portões fechados, para serem preservados de possíveis manifestações de repúdio dos cidadãos suecos.

A pergunta final é: até quando os dirigentes atuais do estado judeu continuarão espezinhando as nobres tradições de um povo que já nos deu Marx, Freud, Trotsky, Einstein, Kafka, Proust, os kibutzim, o Bund, etc.?

2 comentários:

  1. talvez me engane, mas sinto um certo amalgama nesse artigo, entre judeu e Estado de Israel. eu nao sou palestina, sou um quarto arabe, sou certamente preta e india, parecendo branca purinha, como tantos brasileiros. mas de tanto viver na Europa, fiquei doutora em discriminaçao, em constataçao que nao somos europeus e nem sequer parecemos, em levar o choque de descobrir que carregar um nome arabe na europa é quase tao dificil quanto ter a pele negra ou nao bastante branca no Brasil. isso dito, acho que posso expressar um certo mal-estar com esse amalgama. acho que se deve protestar com quantas forças se tenha contra a politica racista, imperialista, discrimonatoria de Israel, mas nao entendo como se pode associar a isso a figura do judeu errante, que é justamente um produto do racismo anti-semita o mais primario em curso na Europa desde a Idade média. a figura do judeu errante seria mais proxima do arabe de hoje, um reprobo por definiçao, no racismo ordinario em que incorrem (incorremos?) muitas pessoas que se julgam esclarecidas e de boa vontade.
    Israel nao tem nada a ver com o judeu errante, é um estado triunfante, uma democracia "acima de qualquer suspeita", uma naçao auto-justificada e auto-vitimizada que acha que nao pode ser julgada por direito divino.
    acho que todas as associaçoes de ideias faceis merecem ser examinadas de todos os angulos, para evitar deturpaçoes que nao ajudam a ninguem.
    abraço,
    Regina

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  2. Regina,

    não procure pêlo em ovo. O único motivo de eu evocar o judeu errante foi a patética situação dos militares israelenses, que não têm acolhida amigável em país nenhum, pois sobre eles pesa o estigma de genocidas.

    Assim como os tenistas israelenses são obrigados a jogarem no exterior sem público, por conta do que os militares (não eles, coitados!) fizeram.

    Sou jornalista: trabalho com imagens fortes e impactantes.

    Mas, não faça leituras além da que motivou a comparação e me deu ensejo a utilizar essa ótima imagem para ilustrar o texto.

    A idéia única é: por conta dos massacres que os israelenses perpetraram há um ano, são execrados no mundo inteiro -- como o mítico judeu errante o era.

    Só isto.

    Abs.

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