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domingo, 30 de agosto de 2009

Preconceito contra professora

Ghiraldelli comenta o preconceito contra a professora que dançou

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A atividade da professora, ao dançar, não foi na escola. Nem mesmo foi ela quem filmou e colocou na internet. Além disso, mesmo que tivesse dançado na escola e posto na internet, ainda assim seria necessário ver que todos, nos últimos trinta anos, estiveram diante de babás eletrônicas (ah, loiras podem!) que dançaram mostrando partes do corpo. Claro! Como dançariam sem corpo? Ah, querem dança disciplinada? Dança não é marcha militar!

Se todas as mulheres não puderem nem mais cruzar as pernas em um bar porque, se filmadas e aparecer a calcinha, serão demitidas, então teremos institucionalizado o terrorismo de todos contra todos. É necessário parar agora com isso. Não parar de filmar. Mas parar com o ataque da pressão social que quer fazer o nosso corpo desaparecer. Ou paramos agora com isso ou vamos começar a punir a nós mesmos por sermos o que somos. Criar problema contra o fato da moça mostrar o corpo pertence ao mesmo tom de conversa daqueles que invocavam com Lula por ele ter barba. É a exigência do “padrão do corpo”, é o desrespeito a tudo que somos como humanos. Não é moralismo não. O moralismo é apenas casca, neste caso. É vontade, mesmo, de colocar “na linha” os que, com sua presença exuberante, mostram para nós que somos corpo. Os conservadores odeiam essa lembrança. Pois, quando ficam sabendo que somos corpo, percebem que todos iremos morrer – desaparecer. Eles não querem aceitar isso, querem ser imortais, então, não admitem que somos todos corpos. Cada um de nós é ou gostaria de ser aquilo que a professora soube mostrar, e que os conservadores amam e odeiam: a beleza do corpo.

Os conservadores que demitiram a moça ou que a pressionaram e os donos do colégio que, enfim, disseram que ela não foi demitida (mas não foi incentivada a ficar), vão ganhar o troco mais cedo do que esperam. Suas filhas vão dançar o “Todo enfiado” na frente deles. Com 6, 7, 12 ou 15 anos. Todas vão mostrar as nádegas e vão gingar muito. As mulatas irão, talvez, gingar melhor que as brancas. Isso ocorrerá não só em Salvador, mas no Brasil todo.

No entanto, no cotidiano, a professora vai carregar a marca da discriminação. O ethos do qual ela participa, vencerá. Sabemos disso. No entanto, não podemos viver da glória hegeliana de achar que os indivíduos devem pagar o preço pelo sucesso da história em seu rumo à liberdade. Não! Temos de fazer justiça a cada indivíduo, agora, para não ter de criar cotas justiceiras futuras. A professora precisaria ter a lei a favor dela agora, neste momento. A OAB e o próprio presidente da República e os candidatos à presidência, todos deveriam apoiá-la. Agora sim, o governador da Bahia deveria vir a público, como fez naquele espalhafatoso caso do professor universitário que deu entrevista na rádio mostrando preconceitos de toda ordem. Naquele caso, era fácil. Quero ver agora, em que o preconceito contra nosso sangue e nosso ethos está mascarado. Quem se cala nessa hora, com medo do Brasil reacionário, é covarde. Quem fala um “azinho” da moça professora, é um verme.

[Vídeo da professora]

©28 de agosto de 2009 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo.
REDE http://ghiraldelli.ning.com
BLOG http://ghiraldelli.pro.br
PORTAL http://filosofia.pro.br

2 comentários:

  1. VOCÊ TEM RAZÃO, AMIGA...SE CALARMOS DIANTE DESTE FATO ESTAMOS CONCORDANDO...ISTO É TERRORRISMO CULTURAL, PARA MANTER UMA CIVILIZAÇÃO DE CLONES QUE SE REPETEM...COM VC, PEDINDO JUSTIÇA E LIBERDADE...

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  2. Que bom, vc só poderia apoiar pelo que já conheço de vc e do pessoal daqui. Precisamos fazer uma twittada bem grande p/ mostrar o outro lado. bjs

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