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sexta-feira, 1 de maio de 2009

A (in) dependência da Folha de São Paulo no debate sobre a responsabilidade social no jornalismo

Patrícia Paixão é jornalista e mestranda em Comunicação Social pela UMESP - Universidade Metodista de São Paulo

Resumo

Este artigo resgata os primeiros debates sobre a conduta ideal das empresas jornalísticas e analisa a aplicação do conceito de responsabilidade social no jornalismo, tendo como objeto o jornal Folha de S.Paulo. O trabalho também procura apontar caminhos para um jornalismo mais socialmente responsável.

Palavras-chaves: responsabilidade social, jornalismo, Folha de S. Paulo.

(...)A manipulação feita pela Folha, como reflexo do comportamento da própria imprensa neoliberal, aconteceria especialmente em cadernos estratégicos, como os de Política e Economia, e em períodos igualmente estratégicos, como as eleições presidenciais, quando o poder das elites é ameaçado. Esse comportamento da mídia em momentos estratégicos faria parte de um processo indicado por Noam Chomski como "construção de consenso", onde a imprensa, por trás de uma ideologia de imparcialidade, se comporta de modo a manter as estruturas dominantes no poder.

A falta de independência e imparcialidade, em prejuízo da sociedade, não é exclusividade da Folha de S. Paulo. Trata-se de uma atitude típica do jornalismo, especialmente em países periféricos, onde a dependência da imprensa de grandes grupos políticos e econômicos é ainda maior. Conforme aponta Ciro Marcondes Filho (1989, p. 11), "o jornalismo, via de regra, atua junto com grandes forças econômicas e sociais: um conglomerado jornalístico raramente fala sozinho. Ele é ao mesmo tempo a voz de outros conglomerados econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas opiniões subjetivas e particularistas o foro da objetividade.".

O que se questiona é o fato de a Folha pretender se diferenciar dos demais jornais pela independência, quando é tão ou mais parcial que os outros impressos.

A responsabilidade social na Folha

Analisando os fatos anteriormente relatados à luz do conceito de responsabilidade social de Wilson Bueno (2003, p. 106-107), segundo o qual, a empresa para ser socialmente responsável deve, dentre outros pontos, "assumir a transparência e a ética como atributos fundamentais, tornado o interesse coletivo como a referência maior na condução dos negócios" e "praticar a excelência na fabricação de produtos e na prestação de serviços, tendo em vista os interesses, expectativas e demandas de seus consumidores ou usuários. [...]", sendo que, "mais do que excelentes, no entanto, esses produtos têm de ser éticos, não podem, por seu consumo ou utilização, acarretar prejuízos aos seus consumidores/usuários", podemos concluir que a Folha de S. Paulo não pode ser considerada uma empresa socialmente responsável. A excelência e a ética na fabricação de seus produtos, no caso a notícia sem partidarismos e manipulações, não vem sendo respeitada.

Essa constatação é fortalecida quando tentamos aplicar à Folha outro ponto fundamental do conceito de responsabilidade social de Bueno - o que diz que a empresa deve "propiciar condições ideais de trabalho para os seus colaboradores, além de remuneração justa, capacitação profissional, realização pessoal e estímulo ao diálogo e à participação no processo de tomada de decisões.".

Conforme relata José Arbex Jr, que foi repórter especial da Folha, no livro Showrnalismo (2001, p-141-172), o processo de produção do jornal é marcado por um "mal-estar" e um autoritarismo, que entram em contradição com a postura democrática e moderna que o impresso vende por meio do seu marketing.

Com o grande salto no campo ideológico conquistado com as Diretas, o jornal passou a ter como objetivo a reforma nos campos tecnológico e organizacional, com a adoção de cronogramas e mecanismos industriais de controle da produção da notícia. A Folha adotou um plano de metas trimestrais, cujo objetivo básico é diminuir o número de erros ortográficos e de informação e adiantar o horário de fechamento da edição.

Um programa de qualidade foi instalado e, por meio de um sistema de quantidade de erros por centimetragem, os jornalistas do impresso passaram a ser avaliados, muitas vezes de forma humilhante. Foi instigado o clima de competição capitalista entre os funcionários.(...)

LEIA NA ÍNTEGRA EM:
http://www.comtexto.com.br/2convicomartigoPatriciaPaixao.htm

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