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domingo, 25 de janeiro de 2009

Nietzsche e a Função da Linguagem e da História na Busca da Verdade

Por Fabio Pereira Soma

Resumo: A linguagem para Nietzsche é considerada como uma metáfora das coisas externas produzida pelos estímulos que elas causam em nós. A partir disso, indagamos sobre a possibilidade da linguagem e da história auxiliarem na busca pela verdade. Para tal, o texto reconstrói o pensamento de Nietzsche contido em dois escritos de 1873 3 1874 (“Verdade e mentira no sentido extra-moral” e “Sobre a utilidade e os prejuízos da história para a vida” respectivamente). Por fim, contrapormos a concepção de Nietzsche, ainda que brevemente, com a visão de Habermas para demonstrar que a história, expressa pela linguagem, deve ser crítica e, com isso, conduzir a verdade.

1. Introdução
Neste trabalho queremos nos perguntar sobre como Nietzsche percebe a função da linguagem e da história na busca, empreitada pelo homem, pela verdade. Para tal projeto, nos deteremos em dois textos do autor. No primeiro, datado de 1873, intitulado “Verdade e mentira no sentido extra-moral” (ÜBER WAHRHEIT UND LÜGE IM AUSSERMORALISCHEM SINN) queremos buscar o conceito de verdade que é expresso por meio do uso da linguagem dentro do rebanho. Dessa forma, faremos uma breve análise
do texto em questão expondo os principais pontos que nos ajudam a compreender a problemática que dá nome a esse trabalho. No segundo texto, datado de 1874, intitulado “Sobre a utilidade e os prejuízos da história para a vida” (VOM NUTZEN UND NACHTHEIL DER HISTORIE FÜR DAS LEBEN), também conhecido com “Segunda consideração intempestiva”, buscaremos entender como a história pode nos ajudar na busca pela verdade. O que queremos com esse trabalho é apresentar algumas considerações acerca da teoria da linguagem de Nietzsche, bem como mostrar que a categoria de “metáfora”, “esquecimento” e “vida” são peças chaves para compreensão de seu pensamento a cerca da verdade. Não queremos ter a pretensão de esgotar o assunto, o que seria uma afronta a Nietzsche que nunca afirmou algo como irredutível.

2. A Função da Linguagem na Busca da Verdade Nietzsche começa seu texto “Sobre a verdade e a mentira em sentido extra moral” indagando-se sobre a capacidade do homem de adquirir e produzir conhecimento. Para ele, se faz notável que o intelecto humano seja capaz de conhecimento, mas não de um conhecimento de fato, se não apenas como uma espécie de imperfeição, como algo desenvolvido pelos homens de modo a compensar sua fragilidade diante da natureza. Assim, a principal ação do intelecto é o engano, o disfarce. O disfarce é uma capacidade que os seres mais fracos adquirem para poderem sobreviver, isto é, para poderem continuar existindo já que não são dotados de garras ou chifres para lutar pela sua sobrevivência. Porém, mesmo que o intelecto seja a fonte do disfarce, de fazer com que aquilo que é seja percebido como o que não é, o homem tem uma inclinação para a verdade.
Para o autor esse impulso a verdade é admirável. O impulso que o homem sente para verdade se dá em meio a uma descrença de que os sentidos são capazes de nos oferecerem informações corretas sobre a realidade. As percepções humanas são claudicantes, coxas, não há nada de definitivo no que nos é dado pelos sentidos. A sensibilidade, portanto, não pode dar ao homem as fontes confiáveis para que essas informações, oriundas dos sentidos, se tornem conhecimento verdadeiro. Isto é bem fácil de provar. Se pedíssemos a um indivíduo, quer seja o mais ilustrado e esclarecido de todos,que nos falasse “tudo” sobre ele próprio, a resposta que teríamos é um silêncio ensurdecedor. Pois, nem sobre si mesmo o homem é capaz de dizer algo que tenha uma validade universal, capaz de ser aceita por todos os indivíduos como imutável, aplicável a todos os homens, e, portanto, verdadeiro. Assim Nietzsche se pergunta “de onde neste mundo viria, nessa constelação, o impulso à verdade” (NIETZSCHE, 2005. p. 54). Parece uma crítica a Kant que coloca na razão o fundamento da verdade, isto é, uma crítica a razão que por si própria produz juízos válidos universalmente. Tais juízos, frutos da razão são aceitos por todos enquanto seres racionais. O que Nietzsche crítica é que essa tentativa de reduzir o conhecimento a atividade isolada do indivíduo que observa a realidade não pode produzir conhecimento, pois o conhecimento das cores, por exemplo, não pode ser tido como um conhecimento válido para quem é cego de nascença, no entanto, estes indivíduos continuam a serem seres racionais enquanto tais e mesmo assim, não podem formar juízos a respeito de qualidades visuais dos objetos. Portanto, a cor, enquanto qualidade sensível, para um cego, não passa de um engano, de algo que não tem sentido. Apesar de sua racionalidade. Mas como podemos, então, buscar a verdade se nossos sentidos não são capazes de nos dizer como é a realidade enquanto tal? Talvez Nietzsche tenha buscado essa resposta no sentimento de rebanho, já que isoladamente o homem não sabe nada além daquilo que produz para enganar a si mesmo.
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Fabio Pereira Soma : Acadêmico do curso de pós-graduação em Filosofia da UNESP. fabio.psoma@gmail.com

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