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sábado, 29 de novembro de 2008

POEMAS

POEMAS
TRINDADE
ALVARES DE AZEVEDO


A VIDA É UMA PLANTA MISTERIOSA
CHEIA D'ESPINHOS, NEGRA DE AMARGURAS,
ONDE SÓ ABREM DUAS FLORES PURAS,
- POESIA E AMOR...
E A MULHER... É A NOTA SUSPIROSA
QUE TREME D'ALMA A CORDA ESTREMECIDA,
- É FADA QUE NOS LEVA ALÉM DA VIDA
PÁLIDOS DE LANGUOR!
A POESIA É A LUZ DA MOCIDADE -
O AMOR É O POEMA DOS SENTIDOS,
A FEBRE DOS MOMENTOS NÃO DORMIDOS
E O SONHAR DA VENTURA...
VOLTAI, SONHOS DE AMOR E DE SAUDADE!
QUERO AINDA SENTIR ARDER-ME O SANGUE,
OS OLHOS TURVOS, O MEU PEITO LANGUE
E MORRER DE TERNURA!
Alvares de Azevedo
ANJO
CASTRO ALVES
AI! QUE VALE A VINGANÇA, POBRE AMIGO,
SE NA VINGANÇA A HONRA NÃO SE LAVA?...
O ANGUE É RUBRO, A VIRGINDADE É BRANCA -
O SANGUE AUMENTA DE VERGONHA A BAVA.
SE NÓS FOMOS SOMENTE DESGRAÇADOS,
PARA QUE MISERÁVEIS NOS FAZERMOS?
DEPORTADOS DA TERRA ASSIM PERDEMOS
DE ALÉM DA CAMPA AS REGIÕES SEM TÊRMOS...
AI! NÃO MANCHES NO CRIME A TUA VIDA,
MEU IRMÃO, MEU AMIGO, MEU ESPOSO!...
SERIA NEGRO O AMOR DE UMA PERDIDA
NOS BRAÇOS A SORRIR DE UM CRIMINOSO!...
Castro Alves
MEUS OITO ANOS
CASIMIRO DE ABREU
OH! QUE SAUDADES DE TENHO
DA AURORA DA MINHA VIDA,
DA MINHA INFÂNCIA QUERIDA
QUE OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS!
QUE AMOR, QUE SONHOS, QUE FLORES,
NAQUELAS TARDES FAGUEIRAS
À SOMBRA DAS BANANEIRAS,
DEBAIXO DOS LARANJAIS!
COMO SÃO BELOS OS DIAS
DO DESPONTAR DA EXISTÊNCIA!
- RESPIRA A ALMA INOCÊNCIA
COMO PERFUME A FLOR;
O MAR É - LAGO SERENO,
O CÉU - UM MANTO AZULADO,
O MUNDO - UM SONHO DOURADO,
A VIDA - UM HINO D'AMOR!
QUE AURORAS, QUE SOL, QUE VIDA,
QUE NOITES DE MELODIA
NAQUELA DOCE ALEGRIA,
NAQUELE INGÊNUO FOLGAR!
O CÉU BORDADO D'ESTRÊLAS,
A TERRA DE AROMAS CHEIA,
AS ONDAS BEIJANDO A AREIA
E A LUA BEIJANDO O MAR!
OH! DIAS DA MINHA INFÂNCIA!
OH! MEU CÉU DE PRIMAVERA!
QUE DOCE A VIDA NÃO ERA
NESSA RISONHA MANHÃ!
EM VEZ DAS MÁGOAS DE AGORA,
EU TINHA NESSAS DELÍCIAS
DE MINHA MÃE AS CARÍCIAS
E BEIJOS DE MINHA IRMÃ!
LIVRE FILHO DAS MONTANHAS,
EU IA BEM SATISFEITO,
DA CAMISA ABERTO O PEITO,
- PÉS DESCALÇOS, BRAÇOS NUS -
CORRENDO PELAS CAMPINAS
À RODA DAS CACHOEIRAS,
ATRÁS DAS ASAS LIGEIRAS
DAS BORBOLETAS AZUIS!
NAQUELES TEMPOS DITOSOS
IA COLHER AS PITANGAS,
TREPAVA A TIRAR AS MANGAS,
BRINCAVA À BEIRA DO MAR;
REZAVA AS AVE-MARIAS,
ACHAVA O CÉU SEMPRE LINDO,
ADORMECIA SORRINDO
E DESPERTAVA A CANTAR
........................................
OH! QUE SAUDADES QUE TENHO
DA AURORA DA MINHA VIDA,
DA MINHA INFÂNCIA QUERIDA
QUE OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS!
- QUE AMOR, QUE SONHOS, QUE FLORES,
NAQUELAS TARDES FAGUEIRAS
A SOMBRA DAS BANANEIRAS,
DEBAIXO DOS LARANJAIS!
Casimiro de Abreu
MOMENTO NUM CAFÉ
MANUEL BANDEIRA
QUANDO O ENTERRO PASSOU
OS HOMENS QUE SE ACHAVAM NO CAFÉ
TIRARAM O CHAPÉU MAQUINALMENTE,
SAUDAVAM O MORTO DISTRAÍDOS,
ESTAVAM TODOS VOLTADOS PARA A VIDA,
ABERTO NA VIDA,
CONFIANTES NA VIDA.
UM NO ENTANTO SE DESCOBRIU NUM GESTO LARGO E DEMORADO,
OLHANDO O ESQUIFE LONGAMENTE,
ESTE SABIA QUE A VIDA É UMA AGITAÇÃO FEROZ E SEM FINALIDADE
QUE A VIDA É TRAIÇÃO,
E SAUDARA A MATÉRIA QUE PASSAVA,
LIBERTA PARA SEMPRE DA ALMA EXTINTA.

Manuel Bandeira

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