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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"PABLO NERUDA" - O LIVRO DAS PERGUNTAS



A universalidade, i.e., a capacidade que um escritor tem de despertar o interesse tanto de literatos como de pessoas menos instruídas com pouco ou nenhum contacto com a literatura, é uma qualidade que poucos atingem. Assim de imediato, lembro-me apenas de Victor Hugo, de Cervantes, de Tolstoi e, arrisco, de Pablo Neruda.

Ricardo Neftali Reyes nasceu em Parral, uma pequena localidade situada a cerca de quatrocentos quilómetros de Santiago do Chile, em 1904. Um ano depois, na sequência da morte da mãe, muda-se com o pai para Temuco, onde viveu até 1921. Aí começa a escrever cedo – o seu primeiro texto publicado data de 1913, um pequeno ensaio intitulado Entusiasmo y perseverancia – enchendo cadernos com versos juvenis, bem como pequenas críticas, publicadas em jornais locais.

Após um período escolar conturbado – quem o quiser confirmar só tem de consultar a introdução de Albano Martins aos Cadernos de Temuco – segue para Santiago, onde estuda francês. Corria o ano de 1921 e, além da entrada na universidade, acontece-lhe algo muito mais relevante: publica o seu primeiro livro, Crepusculario, ainda muito pueril, mas já com alguns poemas interessantes, como é o caso de "Farewell", que aparece em todas as antologias do autor. Encontra-se traduzido para português, numa edição da Quasi. Praticamente tão importante como o seu primeiro livro foi a criação do seu pseudónimo. O pai opunha-se às suas experiências literárias e assim Ricardo Reyes tornou-se Pablo Neruda – nome inspirado no do autor checo Jan Neruda.

Nunca terminou o curso. Rapidamente ingressou na carreira diplomática, tendo exercido os mais diversos cargos nos mais diversos países. Entretanto participou na guerra civil espanhola, aderiu ao Comunismo – fundando o Partido Comunista do Chile - foi senador, ganhou o Prémio Nobel da literatura, em 1973, e foi quase candidato à presidência do seu país (abdicou da campanha em favor de Allende). Acabou por falecer em 1974, vítima de cancro.

É difícil resumir a obra do poeta. Durante a vida, nunca deixou de escrever e de publicar. Segundo ele próprio afirmava, escrevia cerca de cinco poemas por dia, o que talvez ajude a explicar o tamanho da sua obra, que – à semelhança da de Victor Hugo – é quase infinita. Poemas de amor, surreais, épicos, descrições geográficas, odes, violentos ataques políticos, Pablo Neruda escreveu de tudo. Em geral é conhecido pelo seu lado político, pelo seu triste estalinismo e pelos seus poemas de amor – Veinte poemas de amor y una canción desesperada é ainda um dos mais populares livros de poesia a nível mundial. Pessoalmente, o livro que considero mais interessante é Residencia en la tierra, que nasceu directamente do seu contacto com os surrealistas espanhóis, principalmente García Lorca. Canto General – mais Whitman que Neruda, diga-se – também é admirável, mas a longa fase seguinte, fortemente política, é mais fraca, principalmente se comparada com os dois livros referidos.

Neruda nunca abandonou esse seu pendor político – um dos seus últimos livros intitula-se Incitación al Nixonicidio y Alabanza de la Revolución Chilena – mas as últimas obras atingem muitas vezes um pendor mais simples e nostálgico, como o são por exemplo o Memorial de la Isla Negra e este Livro das Perguntas.

Livro póstumo, reunido e dado à estampa pela mulher do poeta em 1974, tal como o nome indica apresenta vários poemas compostos apenas por perguntas. Um exemplo: “O amarelo dos bosques/ é o mesmo do ano passado?// E o voo negro da tenaz/ ave marinha repete-se?// E onde o espaço termina/ chama-se morte ou infinito?// Que pesa mais na cintura,/ as dores ou a lembrança?”.

Perguntas simples, mas sempre inusitadas e com respostas difíceis – ou impossíveis. Há uns anos, quando tomei contacto com o livro pela primeira vez, achei-o infantil e inocente. Percebo agora que não é. É verdade que tem uma leveza muitas vezes semelhante à da poesia oriental, principalmente com os haikus japoneses mas, tal como estes últimos, a leveza é muitas vezes só uma fachada e bastam uns minutos às voltas com algumas das perguntas que Neruda nos propõe para rapidamente descobrirmos qualquer coisa para além do seu sentido aparente.(...) LEIA MAIS EM :
http://orgialiteraria.com/2008/11/livro-das-perguntas-pablo-neruda.html

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