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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"BEATRIZ KUSHNIR" - "Nomear é conhecer"- (RELEMBRO NESTA POSTAGEM O INESQUECÍVEL AMIGO E ARTISTA:"FELIPE DOCTORS")(clique aqui e leia na íntegra)

"Nomear é conhecer: as lápides das polacas no Cemitério Israelita de Inhaúma – um relato"

Beatriz Kushnir


Historiadora e doutoranda em História na UNICAMP.
Autora do livro Baile de máscaras. Mulheres judias e prostituição. As polacas e suas associações de ajuda mútua (Imago, 1996). - bkushnir@uol.com.br

Resumo: Um relato de algumas das experiências da autora durante sua pesquisa. “Por alguns anos estudei a
história de um grupo de imigrantes judeus em algumas cidades do Brasil e mesmo fora dele. Por curiosidade fiz
as contas e percebi que há vinte anos me sinto debruçada e envolvida por essas trajetórias. Refiro-me as moças
judias prostitutas que ficaram conhecidas como polacas. Meu trabalho foi também uma caminhada envolta em
paixão. Enamorei-me por essas narrativas e desejei muito que um trabalho acadêmico pudesse interferir e
transformar uma dada realidade. De muitas maneiras, posso dizer que carrego orgulhosa essa glória, dividida
certamente com muitos que pelo caminho também se apaixonaram por elas.”


Palavras-chave: judeus, imigrantes, polacas, prostitutas

História, imagem e narrativas

setembro/2007 – ISSN 1808-9895 -


Alguns meses atrás recebi um e-mail do Silvio Tendler me pedindo que auxiliasse o Rabino Bonder no
shabat em homenagem aos judeus que lutaram contra a ditadura. Não conhecia pessoalmente o Rabino e na troca
de correspondências, lhe fiz um pedido: um shabat para as polacas. Isto porque, vivia uma dor inominável:
profanaram o meu direito sagrado de visitar um cemitério que conheço desde 1969. Havia sido impedida de
adentrar ao Cemitério Israelita de Inhaúma. Os planos para aquele terreno me fizeram solicitar ao Rabino essa
ajuda.
Por alguns anos estudei a história de um grupo de imigrantes judeus em algumas cidades do Brasil e
mesmo fora dele. Por curiosidade fiz as contas e percebi que há vinte anos me sinto debruçada e envolvida por
essas trajetórias. Refiro-me as moças judias prostitutas que ficaram conhecidas como polacas. Meu trabalho foi
também uma caminhada envolta em paixão. Enamorei-me por essas narrativas e desejei muito que um trabalho
acadêmico pudesse interferir e transformar uma dada realidade. De muitas maneiras, posso dizer que carrego
orgulhosa essa glória, dividida certamente com muitos que pelo caminho também se apaixonaram por elas.
Quando comecei a pesquisa, em 1988, era um tabu mencionar essa história. Seria difícil imaginar um
ato como esse naqueles tempos. Parece que vivemos outros momentos hoje, felizmente. Será? Torço que sim.
Espero que a noite de hoje não seja uma ato isolado e único dentro do calendário de shabat externos. Confio que
os que aqui vieram estejam estabelecendo um pacto de solidariedade com elas. Um acordo que exige ação.
Portanto, me sinto muito gratificada por não ter desistido, idéia que sempre se mostrou para mim muito
longínqua. “Não, não pode”, expressão que tanto ouvi, constroem em mim uma força contraria. Se acharem que
não pode, ai é que quero mais.
Em um país que editar uma tese já é um milagre, fazê-la um agente transformador é algo inominável. A
cada palestra que eu era convidada a falar sobre as polacas, sublinhava o estado lastimável dos seus cemitérios e
descortinava um passado, obrigando os que me ouviam a adentrar em um espaço envolto por mistérios e
segredos desnecessários. Assim, em 1997, 10 anos atrás, eu escrevi um artigo para o jornal paulista Resenha
Judaica, sobre a restauração do cemitério israelita de Cubatão, que ficou três décadas abandonado e pertenceu à
Sociedade Beneficente e Religiosa Israelita de Santos (SBRI de Santos), e foi restaurado pela Sociedade
Cemitério Israelita Chevra Kadisha de São Paulo, em cooperação com a Prefeitura de Cubatão. Ali há 75
sepulturas, 55 de mulheres e 20 de homens, sendo a mais antiga de 1924 e a mais recente de 1966. Todas são de
origem judia que tiveram como ofício a prostituição e a cafetinagem no baixo meretrício santista, onde atuaram
até a década de 1960.
1
Em 1998, o diretor teatral Iacov Hillel encenou, em São Paulo, uma peça sobre as polacas. Naquela
época escrevi um texto para ser publicado no programa da peça. Esse terminava com um desejo:
"Entendo que só há uma justificativa para retornar à temática das polacas seja em um estudo
acadêmico, em um romance ou em uma peça: esta é a hora de exorcizar demônios. Não que
elas o sejam, mas é como alguns de nós as encaram. Podermos nos ver, nós judeus, como um
grupo cujo perfil é múltiplo, auxilia a vivenciar a identidade judaica como um prazer e não
como uma dor.Que essa peça, ora em cartaz, nos faça repensar o lugar que as polacas ainda têm junto à comunidade judaica. E que, principalmente, nos faça entender que é chegado o momento de recolocarmos seus nomes nas lápides do Cemitério Israelita do Butantã". (...)

**Devo a Robert Pechman (IPUR/UFRJ) a menção desse local e a
"Felipe Doctors" as fotos do local em 1970

LEIA NA ÍNTEGRA :http://www.historiaimagem.com.br/edicao5setembro2007/17-polacas-kushnir.pdf

**FELIPE DAVID DOCTORS,foi um extraordinário artista gráfico e pesquisador de semiótica.
Tive o privilégio de trabalhar um semestre somente com ele, semestre que ficará para sempre ...
O "123 - ANTIGO 27" ,era o estúdio de artistas gráficos que teve intensa produção nos anos 80,nas áreas editoriais,promocionais,e etc.
Felipe faleceu há aproximadamente uma década,deixou muitas saudades em todos!
Nadia Stabile - 27/10/08

VEJA O BLOG DE
Beatriz Kushnir:
http://polacas.blogspot.com/2007/03/nomear-conheceras-lpides-das-polacas-no.html.

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