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IMPEACHMENT PARA GILMAR MENDES

Por Celso Lungaretti

"Admito que o ex-presidente pudesse estar preocupado com a realização do julgamento no mesmo semestre das eleições. Isso aí é aceitável. Primeiro, porque é um leigo na área do Direito. Segundo, porque integra o PT. Portanto, se o processo envolve pessoas ligadas ao PT, obviamente, se ocorrer uma condenação, repercutirá nas eleições municipais."

A avaliação, simples mas correta, foi do ministro Marco Aurélio Mello, que sempre considerei o mais lúcido dos integrantes do Supremo Tribunal Federal.

Sim, é da natureza humana tentarmos convencer juízes a tomarem as decisões que nos convêm. O destrambelhado Gilmar Mendes só teria motivos para fazer a tempestade em copo d'água que fez:
  • se Lula o tivesse procurado para tentar influir na sentença do processo do mensalão;
  • se Lula lhe houvesse oferecido alguma forma de recompensa ou feito alguma ameaça, para tangê-lo a aceitar a postergação do julgamento para depois das eleições municipais.
Ora, nem em suas declarações mais furibundas à imprensa Mendes ousou acusar Lula de estar pressionando pela absolvição dos réus.

E, mesmo se acreditarmos na versão que Mendes deu do encontro e ninguém confirmou, a referência de Lula a (mais) uma  ligação perigosa  do seu interlocutor é insuficiente para caracterizar uma ameaça. Lula não teria dito nada parecido com "a militância do PT trombeteará dia e noite que é o Carlinhos Cachoeira quem custeia vossas viagens", mas, apenas, sugerido que convinha ao próprio Mendes deixar esses assuntos melindrosos para mais tarde.

É inadequado alguém falar nestes termos a um ministro do Supremo? Sem dúvida! Mas, o que Mendes esperava, ao aceitar um encontro a portas fechadas com Lula sem ter nada de pertinente a tratar com ele?

Se Mendes é tão sensível a hipotéticas insinuações, certamente não as ouvirá atendo-se à liturgia do cargo.

Como explica Joaquim Falcão, professor de Direito Constitucional da FGV/RJ:
"...no STF há hoje dois perfis distintos. De um lado ministros mais discretos, que não se pronunciam, exceto nas audiências, e que mantêm distância de Executivo, Legislativo e representantes de interesses em julgamento. Vida pessoal recatada.

Por outro lado há ministros que se pronunciam fora dos autos, estão diariamente na mídia, mantêm contatos políticos, participam de seminários e reuniões com grupos de interesse.

A questão crucial, dizem uns, não é se o ministro deve falar fora dos julgamentos, estar na mídia ou se relacionar social e politicamente. A questão é haver transparência antes, durante e depois dos relacionamentos. E que não faça política. As agendas, os encontros, as atividades dos ministros deveriam ser publicados de antemão.

Em alguns países o juiz não recebe uma parte sem a presença da outra, tão grande é a preocupação com a imparcialidade. O que alguns ministros praticam aqui no STF. Ou grava-se a conversa para assegurar a fidelidade do que ocorreu e proteger o ministro de propostas inadequadas".
Mendes é o pior exemplo de  ministro pop star: pronuncia-se o tempo todo fora dos autos, só falta pendurar uma melancia no pescoço para aparecer mais na mídia, mantém contatos políticos a torto e direito, não recusa convites para eventos de poderosos que têm óbvio interesse em decisões do STF.

Pior, FAZ POLÍTICA (e sempre com viés direitista) --como quando produziu irresponsável alarmismo acerca de um estado policial que nem remotamente se configurava, ou quando contrapôs à frase da então ministra Dilma Rousseff, de que "tortura é crime imprescritível", a estapafúrdia afirmação de que "terrorismo também é" (esquecendo  não só a diferença jurídica entre terrorismo e resistência à tirania, como também o fato de que a imprescritibilidade do terrorismo só viria a ser introduzida nas leis brasileiras depois dos  anos de chumbo).

E nunca tem gravações para apresentar, que comprovassem suas denúncias delirantes e bombásticas.

O veterano jornalista Jânio de Freitas (vide íntegra aqui) nos brinda com uma constatação explícita e uma sugestão implícita:
"O excesso de raiva e a aparente perda de controle em Gilmar Mendes talvez expliquem, mas não tornam aceitável, que um ministro do Supremo Tribunal Federal faça, para a opinião pública, afirmações tão descabidas.

...Com muita constância, somos chamados a discutir o decoro parlamentar. Não são apenas os congressistas, no entanto, os obrigados a preservar o decoro da função".
Eu não insinuo, afirmo: já passou da hora de Gilmar Mendes ser submetido a impeachment.

Menos pela comédia de pastelão que está encenando agora e mais por haver, em duas diferentes ocasiões, privado da liberdade Cesare Battisti em função não das leis e da jurisprudência existentes, mas da esperança que nutria de as alterar.

Quando o ministro da Justiça Tarso Genro concedeu refúgio ao escritor italiano, cabia ao presidente do STF suspender o processo de extradição e colocá-lo em liberdade, como sempre se fizera. Mas decidiu mantê-lo preso, confiante em que convenceria seus colegas ministros a detonarem a lei e a instituição do refúgio, passando por cima do Legislativo e usurpando prerrogativa do Executivo. Conseguiu.

Da segunda vez, quando o então presidente Lula negou a extradição, exatamente como o Supremo o autorizara a fazer, o relator Mendes e o presidente Cezar Peluso apostaram de novo numa virada de mesa legal... E PERDERAM!

O desfecho do caso os tornou responsáveis pelo SEQUESTRO de Battisti durante os cinco meses seguintes --e nada existe de mais grave para um magistrado do que dispor tendenciosamente da liberdade alheia, cometendo abuso gritante de autoridade.

Se Mendes sofrer o impeachment agora, Deus estará escrevendo certo por linhas tortas.

COMPANHEIRA - MARCELO ROQUE

Recadoseglitters.com





Companheira

Quando todas as portas se fecham,
quando o sol se perde num céu todo cinza,
quando perdido me sinto na multidão,
eis que me lembro da poesia
e já não me sinto assim tão só

Marcelo Roque

terça-feira, 29 de maio de 2012

DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS É PRIORIDADE MÁXIMA EM SP

Por Celso Lungaretti

Cinco anos se passaram desde que, tentando enfiar goela adentro da comunidade uspiana quatro decretos autoritários, o então governador José Serra deu o pontapé inicial numa escalada de arbitrariedades que foi intensificando-se cada vez mais, até chegarmos às recentes e gravíssimas violações dos direitos humanos em São Paulo.

Então, ao promover um seminário sobre os DH em Sampa, o PSOL almeja algo bem maior do que o aprimoramento do seu programa, visando futuras disputas eleitorais: quer estimular os outros agrupamentos verdadeiramente de esquerda a também priorizarem a luta contra a barbárie e o retrocesso, inscrevendo-a em suas diretrizes e abrindo-se a iniciativas de união das forças progressistas para o enfrentamento do inimigo comum.

Há várias formas de avaliarmos tais episódios: podemos, p. ex., vê-los como consequência dos excessos e provocações dos remanescentes da ditadura militar até hoje enquistados na máquina governamental; como nova demonstração do despreparo de algumas autoridades para o exercício de suas funções numa democracia; e até como balões de ensaio golpistas, para se testar a resistência da sociedade brasileira ao restabelecimento do estado policial.

Todos sabem que eu fui o primeiro a alertar para a última possibilidade. Mas, qualquer que seja o motivo, NÃO PODEMOS, DE MANEIRA NENHUMA, CRUZAR OS BRAÇOS DIANTE DO QUE ESTÁ OCORRENDO! Tanto quanto nos  anos de chumbo, a defesa intransigente dos direitos humanos se tornou um imperativo para os militantes de esquerda em SP.

Daí eu pedir a contribuição de todos os companheiros, no sentido de começarmos a construir a reação organizada do CAMPO DA ESQUERDA ao avanço da DIREITA SELVAGEM na cidade e no estado de São Paulo.

COMO DETERMOS A ESCALADA DE GRAVES
VIOLAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS EM SP?

O PSOL está abrindo a discussão sobre os problemas candentes da atualidade brasileira, em seminários que servem para a identificação de propostas a serem incorporadas ao programa do partido em relação a questões relacionadas à educação, saúde, meio ambiente, juventude, LGBT, etc.

Neste sentido, vai promover amanhã (4a. feira, 30), a partir das 19 horas, o Seminário de Programa: Direitos Humanos, que terá lugar no Sinsprev (rua Antonio de Godoy, 88, 2o. andar, ao lado do Largo do Paissandu, no centro velho de São Paulo).

Os debatedores já confirmados são o militante histórico da Anistia Internacional Carlos Lungarzo e o jornalista e ex-preso político Celso Lungaretti, que tiveram participação destacada na luta pela liberdade de Cesare Battisti; e Fabiana Leibl, da ONG Conectas Direitos Humanos.

Estão convidados não só os filiados ao PSOL, mas os militantes de DH e todos os interessados em darem uma contribuição positiva para o aclaramento e aprofundamento de assuntos que vão desde a persistência da tortura policial contra presos comuns até hoje e as condições de vida e de trabalho desumanas impostas a grande parte da população, até a escalada autoritária em curso na cidade e no Estado (repressão da Marcha da Maconha, faxina social na Cracolândia, barbárie no Pinheirinho, ocupação militar da USP, etc.).

OUTROS TEXTOS RECENTES (clique p/ abrir):
A "FOLHA" VIRA PORTA-VOZ DO TERNUMA E QUASE NINGUÉM DENUNCIA?!
A "FOLHA" AGORA É A VERSÃO IMPRESSA DO TERNUMA
O NOVO XOU (ME ENGANA QUE EU GOSTO)


segunda-feira, 28 de maio de 2012

A "FOLHA" AGORA É A VERSÃO IMPRESSA DO TERNUMA

Por Celso Lungaretti
As aparências enganam: esta NÃO
é a redação da Folha de S. Paulo...
Os remanescentes da bestial repressão da ditadura militar e os discípulos que eles formaram no culto aos conceitos e valores totalitários têm amplitude de atuação bem maior desde o último domingo (27), quando a rede de divulgadores de suas difamações, calúnias, injúrias e pregações golpistas passou a contar com a participação explícita da Folha de S. Paulo.

O marco inicial desta nova fase em que o jornal da  ditabranda  finalmente saiu do armário é a peça de propaganda enganosa intitulada Para militares, Estado combatia o terrorismo (pedófilos, sádicos, assassinos seriais, coprófagos e que tais podem acessá-la aqui --o Ministério da Saúde Mental adverte que a exposição prolongada causa fascistização).

As aparências enganam: esta
edição NÃO é dos dias atuais
Nela está exposta a racionália falaciosa que os ditadores e seus esbirros utilizam há décadas para tentarem justificar seus crimes contra a humanidade, não negando as torturas, assassinatos (incluindo execuções de prisioneiros indefesos a sangue frio), estupros, ocultação de cadáveres e outras atrocidades fartamente documentadas, mas colocando no mesmo plano os atos cometidos pelos que, em condições de extrema inferioridade de forças, confrontavam o despotismo.

E, de quebra, os leitores são convidados a clicarem no endereço eletrônico da matriz, para obterem mais do mesmo:
"A lista mais completa das pessoas mortas pela esquerda armada está no site do grupo Terrorismo Nunca Mais (www.ternuma.com.br).
É um grupo obviamente engajado, como ele se define: 'Um punhado de democratas civis e militares inconformados com a omissão das autoridades legais e indignados com a desfaçatez dos esquerdistas revanchistas'".
As aparências enganam: este AINDA
não é o mais novo editor da Folha
Seria cômico, se não fosse trágico: o autoproclamado maior jornal do País abre suas páginas para os herdeiros de Adolf Hitler e Vlad Dracul se proclamarem democratas!!!

Mas, no caso do Grupo Folha, trata-se apenas de uma volta às origens: no auge do terrorismo de estado no Brasil, não só cedia viaturas para camuflarem o serviço sujo da repressão, como até facilitava o sequestro dos jornalístas da empresa (ao contrário da família proprietária de O Estado de S. Paulo, que ajudou a golpear as instituições em 1964 mas nunca permitiu que seus profissionais fossem caçados pelos torturadores no ambiente de trabalho).

A Folha mudou um pouco a linha editorial no governo do ditador Geisel por orientação do próprio Golbery do Couto e Silva, que capitaneava a  abertura lenta, gladual e segura  do regime de exceção.

Mas, a nostalgia dos velhos tempos tem batido tão forte nos últimos anos que a Folha não resistiu: arrancou a pele de cordeiro e está reassumindo sua monstruosidade intrínseca.

Aguarda-se para os próximos dias a confirmação de Carlos Alberto Brilhante Ustra como seu novo secretário de redação ou editor de Poder...
OUTROS TEXTOS RECENTES (clique p/ abrir):
DIREITOS HUMANOS EM DEBATE NA 4ª FEIRA: COMPAREÇA!
O NOVO XOU (ME ENGANA QUE EU GOSTO)
É ASSIM QUE ACABA O MUNDO

LANÇAMENTO DE 'AO PÉ DO MURO' EM CANANÉIA





O Lançamento de Ao Pé do Muro na Cidade de Cananéia
Carlos Alberto Lungarzo
Prof. Tit. (r) Univ. Est. Campinas, SP, Br.
26 de maio de 2012
Na anterior sexta feira, dia 18 de maio, o romance de Cesare Battisti Ao Pé do Muro, editado por Martins Fontes, apresentado já em várias reuniões de São Paulo e do Rio de Janeiro, foi também lançado em Cananéia, uma charmosa cidade do litoral Sul localizada a cerca de 270 Km da Capital.
Este lançamento foi algo diferente dos outros. Não foi feito numa livraria nem num anfiteatro, mas numa rua da cidade, fechada aos veículos por disposição municipal e contou durante as longas horas que durou o evento com a discreta proteção da Polícia Miliar do distrito.
 Os assistentes, que na hora pico somavam por volta de 300 pessoas, celebraram, comeram e beberam num restaurante da rua. Ao mesmo tempo, se deliciaram com o rock progressivo da banda, muito boa, Siri na Lata, formada por jovens de uma das cidades do litoral.
O evento foi um convite especial de seus moradores e da Câmara Municipal, pois Cesare Battisti morou nela durante quatro meses, pouco depois de sua soltura no dia 8 de junho de 2011. Muitos devem lembrar ainda que foi nessa cidade onde a Folha de S. Paulo fez uma reportagem difamatória sobre o escritor italiano, publicando na capa fotos que visavam prejudica-lo (embora não o conseguissem), abusando da confiança que os gentis e solidários anfitriões de Battisti tinham depositado no repórter.
Nessa cidade, como acontece em outros lugares onde morou, como Rio de Janeiro, e até em lugares onde apenas transitou ocasionalmente (como Porto Alegre durante o Foro Mundial Temático, e Fortaleza, onde fez um pré-lançamento do livro), Battisti ganha a simpatia geral das pessoas da cidade. Estas apreciaram seu estilo cordial e transparente, sua afabilidade, e sua capacidade de se entrosar nas conversas e nos problemas de seus semelhantes.
Uma prova disso tivemos em Porto Alegre, no final de janeiro, quando, passeando pelas ruas da cidade, era frequentemente requerido para conversar e bater fotos com pessoas sozinhas, homens e mulheres, e até com famílias com crianças. Na época, não houve uma única provocação, o que parece mostrar que o povo, tanto o mais popular como a classe média esclarecida, não engoliu os infames relatos da mídia, a campanha de mentiras e o lixo mediático exportado pelos rancorosos mafiosos peninsulares e sua sociedade de “amigos” remunerados.
Além dos aspectos pessoais, influiu o sentimento hospitaleiro e cálido do povo brasileiro. E também a necessidade moral de confrontar-se com uma gangue política estrangeira que tinha humilhado a sociedade e todas suas instituições de uma maneira tão baixa como não é possível lembrar outra na história moderna das sociedades ocidentais.
Mas, em Cananéia, não apenas o povo celebrou o escritor que fora seu carismático vizinho durante alguns meses. No jornal A Tribuna, o mais conhecido e lido do litoral santista e sulista, Battisti é tratado como o segundo homem famoso que morou na cidade. (Vide)
De acordo com a tradição, o bacharel português Cosme Fernandes, foi abandonado em condição de degredado em 1502, na área onde seria construída a vila em 1531. O motivo deste desterro teria sido o fato de ser judeu; por outras palavras, ele foi a primeira  da barbárie teológica e racista vítima acolhida no Brasil, por seus primeiros habitantes, os índios.
Fontes não totalmente confiáveis, talvez inspiradas em fábulas românticas, o descrevem como um defensor dos índios e um resistente contra a opressão colonialista portuguesa, mas pouco se sabe ao certo.
Nada menos que 509 anos depois, um novo alvo do delírio linchador (misturado agora com a ideologia do fascismo, da máfia e do stalinismo, que na época de Cosme não existiam) trouxe outra celebridade perseguida às deliciosas praias de Cananéia.
O evento foi organizado por diversos grupos populares, entre eles, movimentos sociais e o Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (SINTUSP), mas foi visitado também por setores da classe alta da cidade. De fato, em todo o Brasil, setores honestos das elites se manifestaram contra a humilhante situação de ser tratados como escravos de uma cultura decadente, dominada pelos padrinhos da Cosa Nostra, os herdeiros de Mussolini e os imitadores de Stalin. Além disso, só mentes doentias ou em franca falência podem gostar de ser considerados cúmplices servis de um linchamento. É por isso que pessoas sadias, de qualquer condição social, se mostram cada vez mais avessas a assumir as envelhecidas  vinganças e ódios de psicopatas irreconciliáveis.
Também alguns representantes da Câmara Municipal se fizeram presentes. Tudo isto aconteceu no meio à sessão de autógrafos, sob o ritmo estimulante da banda de rock.
A peça executada como despedida foi I Want to Break Free, de Queen, escrita em 1984 pelo baixista John Deacon, muito adequada ao momento. Ela foi sempre considerada um hino contra a opressão e é uma composição vibrante e profunda; algo necessário num mundo dominado por algozes e por uma moda musical envenenada pela pieguice e a banalidade.
Foi um encontro festivo e de confraternização, onde houve muitos interessados no livro, mas não se falou só em literatura. Era uma oportunidade para os amigos se encontrarem junto ao mar, símbolo da alegria e da liberdade, esquecendo os fornos onde, como dizem os escritores franceses amigos de Battisti, se funde o metal do ódio e da vingança.

Gilles Deleuze - Abecedário "R" de Resistência - 1988 - Arte, Resistência

 

Deleuze Abecedário "R" de Resistência 1988.

Subtitulado por Medicina y Arte

https://www.youtube.com/watch?v=7fxDisNaqGI 

Publicado em 18 de mai de 2013 

Deleuze Abecedario R de Resistencia 1988. Subitulado por Medicina y Arte www.medicinayarte.com 

*postagem atualizada em 12 09 2015 

FRUTOS - MARCELO ROQUE


Frutos

Se o fruto da árvore
não for doce como desejado
isto não significa que sua copa
não lhe ofereça a merecida sombra
para o seu descanso

Marcelo Roque

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Para Não Esquecer: Deputados Escravocratas



Para Não Esquecer: Deputados Escravocratas

Carlos Alberto Lungarzo
Prof. Tit. (r) Univ. Est. Campinas, SP, Br.
24 de maio de 2012
Ontem, a Câmara Federal aprovou em segundo turno, por 360 votos a favor, 29 contra e 25 abstenções, a Proposta de Emenda à Constituição que estabelece o confisco das propriedades urbanas e rurais onde se exerça o trabalho escravo. (Veja um artigo meu com maiores detalhes, aqui)

Os Que Não  Apoiaram

Ao longo da história, até pessoas conservadoras foram incapazes de defender a escravidão. Apesar do racismo e o classismo que foram valores essenciais na fundação dos EEUU, vários dos próceres americanos, embora incapazes de libertar seus escravos, deixaram testamentos para que seus herdeiros o fizessem.
O fato de que 54 membros da Câmara Federal se manifestaram contra a PEC ou, então, evitassem apoiá-la, é um fato de desproporcional primitivismo, mais de um século e meio depois que os EEUU lutassem a pior guerra de sua história para eliminar aquela mazela.
Por sinal, no dia de hoje, a ONG Anistia Internacional manifestou sua satisfação sobre o resultado da votação, mas advertiu sobre o risco de que o conceito de “escravidão” seja deformado pela lei brasileira, de modo que imputar alguém a comissão desse crime se torne difícil. Com efeito, a brutal oligarquia rural, formada por chefes de jagunços dos quais a maioria da sociedade é refém, encontram-se contrariados pelo resultado.
Não pode esquecer-se, também, que os ruralistas formam em quase toda a América Latina (salvo 3 exceções) uma casta paralela ao estado, que se apoia na corrupção de políticos e policiais. Assim sendo, o crime de submeter a trabalho escravo não é um crime comum (muito menos, político), mas um típico crime contra a humanidade, aliás, o mais grave de todos após o de genocídio. Por sinal, a escravidão envolve quase sempre formas diretas ou indiretas de tortura. Assim, o trabalho escravo inclui quase todas as violações aos direitos humanos e, como tal, esse crime deveria ser punido da mesma forma que o homicídio qualificado.
Apesar desta obviedade, as leis brasileiras punem esta aberração como se fosse uma briga de rua e, como se isso não bastasse, as condenações se reduzem a simples multas.
A definição de trabalho escravo deve contemplar também a forma de redução à situação de escravo. Já os senhores feudais dos trópicos se preparam para proteger seu sistema de servidão com diversos pretextos legais. Com efeito, dificilmente, algum dos escravocratas brasileiros “compra” seus escravos no mercado, como se fazia na Roma Antiga. Por isso, é fundamental considerar trabalho escravo qualquer forma de relação trabalhista que implique qualquer forma de coação ou de intimidação.
Devemos lembrar, finalmente, que quase uma centena de deputados esteve ausente. Não sei se esse tamanho do ausências é normal, mas, de qualquer maneira, é possível que alguns dos ausentes fosse também oposto ou indiferente à importantíssima votação.
Por tudo isso, devemos estar alertas, especialmente em relação com os parlamentares que são definidamente escravistas.
Descarto que algum leitor deste blog vote em algum desses legisladores, mas devemos lembrar que muitas pessoas não conhecem os nomes destes deputados nem os identificam pelo rosto. De fato, eles são simples mercadores que usam a representação pública para manipular o estado em seu benefício, e conseguem se eleger com métodos diversos, desde compra de votos, chantagens até ameaças.
Por tanto, é um dever de todos os que pretendem viver numa sociedade civilizada, divulgar os nomes e fotos destes parlamentares de todas as formas possíveis, e explicar a seus familiares e relações a necessidade de boicotá-los. Quando aos que se abstiveram, é necessário pelo menos tê-los em conta. Alguém pode dizer que eles não provam, com sua abstenção, que sejam pró-escravidão. Pode ser que simplesmente não tenham clareza sobre o assunto. Ahhh.... então é isso? Bom, se for assim, devemos ser cordiais com eles. E sendo que eles se abstiveram de votar na PEC, os cidadãos brasileiros (eu, infelizmente, não voto) devem imitá-los: abstenham-se de votar neles!

Os Donos do Chicote

Quando você deva votar, é bom que lembra os que se opõem à punição do trabalho escravo.
NOME
ESTADO
DEMOCRATAS (DEM)
Abelardo Lupion
Paraná (PR)
Lira Maia
Pará (PA)
Luiz Carlos Setim
PR
Paulo Cesar Quartiero
Roraima (RR)
Ronaldo Caiado
Goiás (GO)

PARTIDO DEMOCRÁTICO DOS TRABALHADORES (PDT)
Giovanni Queiroz
PA

PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS)
Foi fundado em 1996 e possui um único deputado, pertencente ao estado de Minas Gerais. Este partido defende o que ele chama o “distributivismo” cristão, e é um dos que imitam as democracias cristãs e outras correntes neofascistas.
José Humberto     
Minhas Gerais (MG)

PMDB
Alceu Moreira
Rio Grande do Sul (RS)
André Zacharow
PR
Antônio Andrade
MG
Edio Lopes 
RR
Júnior Coimbra
Tocantins (TO)
Marinha Raupp
Rondônia (RO)
Valdir Colatto
Santa Catarina (SC)

PARTIDO PROGRESSISTA (PP)
É o herdeiro mais direto do partido da ditadura militar conhecido como ARENA, e apoia as candidaturas mais afinadas com o golpismo, a tortura, a violência, a homofobia, etc.
Beto Mansur
São Paulo (SP)
Carlos Magno
RO
Luis Carlos Heinze
RS
Nelson Meurer
PR

PARTIDO DA REPÚBLICA (PR)
Fundado em 2006 como união de partidos pequenos que não tinham cabida na lei eleitoral, representa um dos setores mais corruptos e mercenários da direita.
Bernardo Santana de Vasconcellos
MG

PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC)
É uma coalizão de partidos oportunistas, onde predominam os exploradores da ingenuidade pública e as igrejas que sugam a economia popular. Serviu de base à candidatura de Collor, e apoiou um dos mais grotescos políticos do país, que fora governador do RJ.
Nelson Padovani
PR

PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO (PSD)
Foi fundado em 2011 pelo prefeito de São Paulo, reunindo os elementos mais atrasados dos outros partidos de direita, incluindo ruralistas, pró-golpistas, neoliberais e similares.
Eduardo Sciarra
PR
Francisco Araujo
RR
Guilherme Campos
SP
Homero Pereira
MT
Irajá Abreu
TO
Marcos Montes
MG
Raul Lima
RR


PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA BRASILEIRO (PSDB)
“Tucanos”
Berinho Bantim   
RR

PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB)
Nelson Marquezelli
SP




Os Tímidos

 Durante a campanha pela PEC 438, foi exercida uma enorme pressão por parte de muitos segmentos da sociedade, especialmente artistas e intelectuais famosos, que influíram sobre seu público. Aliás, para os políticos que não têm um total desprezo pela imagem do país e de suas instituições, rejeitar essa proposta era demasiado cinismo. Portanto, vários se abstiveram. É possível que nem sempre a abstenção seja um não disfarçado, mas o assunto era muito óbvio para que alguém possuidor de uma dúzia de neurônios pudesse ter legítimas hesitações.
Por via das dúvidas, os deputados com conflitos existenciais são estes:
DEMOCRATAS
Jairo Ataide, MG
PMDB
Asdrubal Bentes, PA
Carlos Bezerra, MT
Eduardo Cunha, RJ
Genecias Noronha, CE
João Magalhães, MG
Joaquim Beltrão, AL
Washington Reis, RJ
Wilson Filho, PB
PARTIDO PROGRESSISTA
Lázaro Botelho, TO
João Carlos Bacelar, BA
Wellington Fagundes, MT
PSC
Zequinha Marinho, PA
PSD
Diego Andrade, MG
Eliene Lima, MT
Hélio Santos, MA
Junji Abe, SP
Moreira Mendes, RO
Júlio Cesar, PI
Onofre Santo Agostini, SC
Ricardo Izar,  SP
PSDB
Carlos Brandão, MA
PTB
Jovair Arantes, GO
Magda Mofatto, GO