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FOLHETIM - Regina M. A. Machado

Segunda ao meio-dia:

- Oi, querida.
- Oi. Foi bem de aula? ... Sabe a nossa vizinha, D. Margarida?
- D. Margarida? Não, não sei.
- Acho que ela até é sua colega de departamento...
- Ah, não é não, mas já sei quem é. É uma figura da comunicação, estruturalista de carteirinha em 2011, imagine.
- Pois é, parece que ela fugiu com o seu Matias.
- Fugiu? Com o... com quem? Que história maluca é essa? Em vez de reportagem, você agora inventa folhetins para os jornais?
- Não, nem precisa. É um drama deslocado no tempo, também acho inteiramente fora de moda, mas é pura realidade.
- E quem é esse seu Matias?
- O seu Matias Cearense, que vende bucha na feira, não se lembra? Ele tem uma barraca grande, com um monte de tarecos para a casa, mas nós sempre fomos clientes das buchas.
- Jamais vi nem ouvi falar desse cara.
- Ah, mas é muito chato conversar com você, você não se lembra nunca de nada nem de nenhuma pessoa real, parece que só vê o que se passa acima das nuvens das suas especulações!
- Tá, isso dito e repetido, quem é mesmo o seu Matias?
- É um homem muito simpático, bem falante, calmo... parece que ele é feirante há anos em São Paulo, tem família aqui, ninguém entende essa loucura, os amigos dele deram parte por desaparecimento...
- Pode ser isso mesmo, não?
- Não, ela deixou uma carta para a família e a mulher do porteiro já deu uma versão pessoal para o prédio inteiro.
- Ah, e como são as duas versões?
- Eu mesma não vi a carta, e a história já rolou tanto pelos andares do prédio que já deve estar revista e aumentada várias vezes. Mas resumindo, eles costumavam conversar todos os domingos na feira, desde vários anos, depois passaram a tomar caldo de cana juntos... Um dia ela descobriu que ele sonhava em voltar para um sítio perdido lá nos sertões do Cariri, plantar coisas da terra, instalar um sistema de eletricidade solar – mas só de dia, de noite cortam a luz num raio de não sei quantos quilômetros. Teu amor e uma cabana, mas sem poluição luminosa nem outra qualquer.... e com tecnologia de ponta, parece.
- Ela diz isso tudo num bilhete de despedida?!?!
- E eu sei lá? Vai ver que a mulher do porteiro é ecologista fundamentalista!... ou alguém que passou adiante achou que faltava conteúdo político numa história banal...
- Banal?!!! É a coisa mais interessante que aconteceu neste prédio em quinze anos!... é um acontecimento histórico, uma inversão das tendências migratórias históricas desde que acabaram com o massapê do nordeste no ciclo da cana-de-açúcar!...
- O que seria dos meus humildes causos sem o brilho das suas contribuições, né, bem?
- ... Sem falar no valor simbólico deste adultério na contramão!... você não vê que sublime novidade representa ela ter deixado o executivo emproadinho do sul-maravilha, que nunca comeu fruita no pé e pensa que cultura é gostar de música clássica, por um pau-de-arara?... ter abandonado esta divina megalópole por um sítio que só deve ter pé-de-pau com certeza mirradinho por falta de chuva... Não sei não, acho que vou acabar gostando da D. Margarida...
- Bom, o almoço está pronto. Você pode continuar a se entusiasmar na mesa.
- Sabe que a sua historinha me deu fome? Macarrão de novo?!? Humm, deu foi vontade de uma peixada em praia do Nordeste...
- Não é macarrão, é alga, mentecapto!

No final da semana:

- Tem novidade?
- Sobre o quê?
- A D. Margarida, ora...
- Ah, o ilustre professor agora se interessa por fofoca do prédio!... pois tem sim. Ouvi uma conversa no elevador, que ela andou por aqui, que saiu uma briga tremenda lá no apartamento deles e que o que se ouvia era: “Não vou, não tem cabimento, você é louca” e coisas assim. Será que ela veio buscá-lo?
- Mas será o Benedito? Tá tudo invertido mesmo!!! Agora é o paulista que encarna os valores machistas que sustentam a família patriarcal??? E o nordestino, então, teria tido pena do marido abandonado?.... Meu Deus, que golpe no meu orgulho regional!.. O que será que ele vai fazer? Será que vai lá e acaba com os dois? Será que vai dar graças a Deus por ter se livrado daquele pau-de-virar-tripa?
- Não sei e nem dá para saber. Você já está tentando aplicar as suas estruturas narrativas num episódio da pobreza ou da caridade afetiva de gente que a gente mal conhece.
- É, não dá mesmo para imaginar, e, aliás, prefiro aguardar. Mas ganhei meu dia com a sua fantástica crônica da vida real – aguardemos o desenlace. E essas sacolas aí, amanhã é dia de feira?
- É sim. E vou ter que procurar outro vendedor de bucha.
- Mas não vai tomar caldo de cana com ninguém, não é? Estou começando a achar que feira é muito perigoso. Sabe do que mais? Vamos jantar fora: te convido para comer uma carne de sol com farinha de pau e manteiga de garrafa num restaurante que está muito bem cotado e depois a gente podia ir num forró em homenagem ao seu Matias. Tou precisando desenferrujar esta postura de computador. ... Ah, eu queria me lembrar da cara dele....



(Regina M. A. Machado é doutora em Literatura Brasileira pela Sorbonne Nouvelle/Paris3 e autora do livro Fiction et café dans une vallée impériale, Paris, Editions Indigo-Côté Femmes, 2011. É pesquisadora associada ao CREPAL e seus trabalhos publicados têm se orientado para releituras da ficção de José de Alencar. Atualmente, anima oficinas de francês (ASL – ateliers sociolinguistiques) em Bonneuil-sur-Marne, onde mora)

FONTE : http://www.diversos-afins.blogspot.com/
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FICTION ET CAFÉ DANS UNE VALLÈE IMPÉRIALE - REGINA M.A.MACHADO

(clique na imagem para ampliar)
(tradução automática Google)
www.indigo-cf.com
INDIGO Mulheres & Side-edições
ISBN 2-35260-071-5

Qualquer pessoa interessada no Brasil, sua história e estrutura do
sua empresa, sabe da importância do vale do Rio Paraíba do Sul, que
desde o Estado de São Paulo, vira norte-leste, entre o Rio de Janeiro
e Minas Gerais. Este é o lugar onde o café, que tem dominado a economia do país
por tanto tempo, começou a ser cultivado em grande escala,
completa dependência da importação maciça de mão de obra escrava
da África. Atualmente, o visitante casual teria de ser o
coloca conhecimento desta história, porque a linha de colinas arredondadas
desnudas que cobria-los, não mantém um registro
cafeeiros que os substituíram. Algumas das mansões
século 19, alguns em ruínas, outros tornaram-se hotéis onde
Rio escapa para um fim de semana, que inclui todos os antigos
fazendas apresentar ao visitante pressionou. (...)
Quanto à expressão literária tem sido capaz de encontrar esta sociedade construída sobre
bases tão brutal durante este mesmo período, a questão
levantadas por este livro. É a metade do século 19 que a fertilidade do solo
começa a correr para fora, o abolicionismo se espalhar, e os habitantes
trabalhadores da zona de café, proprietários, livres e escravos, sinto que
o vale e seu estilo de vida foram condenados.
Plantações migraram para o oeste para São Paulo, onde foram
decolar novamente. Como é interessante que as novelas
revelando sutis e foram escritas quando reinou sem opressão
suavemente associado com uma economia que está ameaçada sabia
estrangulamento pelo seu sistema social e econômico?
Parte do fascínio do livro de Regina A. Machado é
precisamente neste paradoxo. De maneiras diferentes, muito diferentes das
si e cada um escrito por um autor - José de Alencar, Bernardo Guimarães e
Coelho Neto - titular de um lugar e uma reputação em particular
dentro do cânone oficial da literatura brasileira, os três romances que ela tem
escolhida para não se concentrar ignorar o beco sem saída que estava emergindo para o vale.
Em vez disso, eles revelam a complexidade na forma como os seus
configuração realmente refletem problemas nacionais, no âmbito limitado de
a fazenda.
John Gledson
Capa: "Colhendo, fotografia Armínio Kaiser (Paraná, Brasil)

UMA FORCINHA PARA O "COMPANHEIRO" ABÍLIO DINIZ


Teoricamente, o BNDES é uma empresa pública federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que tem como objetivo apoiar empreendimentos capazes de contribuir para o desenvolvimento do Brasil.

De sua ação deveriam resultar a melhora da competitividade da economia brasileira e a elevação da qualidade de vida da sua população.

Só que, conforme o bordão do Joelmir Beting, na prática a teoria é outra.

Eis que o BNDES, por meio de seu braço de investimento (BNDESPar), comprometeu-se a aportar R$ 3,91 bilhões (85% DO MONTANTE TOTAL DA TRANSAÇÃO!!!) para viabilizar a compra das operações do Carrefour no Brasil por parte do empresário Abílio Diniz.

A justificativa retórica é que a incorporação do Carrefour pelo Pão de Açúcar criará um "campeão nacional" do varejo supermercadista.

E daí? Desde quando o avanço da monopolização de um setor da economia conduz ao "desenvolvimento do Brasil", à "melhora da competitividade da economia brasileira" e à "elevação da qualidade de vida da sua população"?

Muito pelo contrário. Mal foi anunciado o negócio, os bem informados já cantaram a bola:
  • perderão os fornecedores, que vão ter seu poder de barganha reduzido;
  • perderão os consumidores, pois o gigante varejista imporá seus preços a bel prazer, sem a pressão de concorrentes à altura; e
  • perderão os funcionários, pois muitas lojas serão fechadas e muitas atividades concentradas, daí resultando os inevitáveis passaralhos.
Quem ganhará? Os de sempre: os bilionários que comandam as empresas e os (geralmente) bilionários ou milionários que nelas investem. Previsivelmente, as ações do Pão de Açúcar valorizaram, de imediato, 12,6%. 

Faz quase um século que Lênin já disse tudo (1):
"...o desenvolvimento do capitalismo chegou a um ponto tal que, ainda que a produção mercantil continue 'reinando' como antes, e seja considerada a base de toda a economia, na realidade encontra-se já minada e os lucros principais vão para os 'gênios' das maquinações financeiras. Estas maquinações e estas trapaças têm a sua base na socialização da produção, mas o imenso esforço da humanidade, que redundou nessa socialização, acaba beneficiando ... os especuladores".
Lembra, Dilma? Você, eu, todos os companheiros, o que nós queríamos era tirar dos ricos e dar para os pobres. Este belo sonho foi um dos motivos para termos assumido tantos riscos e sofrido tanto no início de nossa trajetória.

Será muito chato se você, na outra ponta da vida, comportar-se segundo o figurino do sistema, como Robin Hood às avessas...
  1. Imperialismo, fase superior do capitalismo, 1916 

INFÂMIA VIRTUAL

http://youtu.be/ja_Q3Ngnldc - este endereço continua dando acesso a um grotesco vídeo difamatório, que ataca, da maneira mais vil, a memória de Carlos Lamarca, herói do povo brasileiro. 

Até quando seremos tão ingratos com os que entregaram sua vida na luta contra a tirania?

domingo, 26 de junho de 2011

INDEFINÍVEL - MARCELO ROQUE, Glória Kreinz divulga

APOIO Http://recantodasletras.com.br/autores/marceloroque

www.abradic.com/njr



Indefinível

Como posso saber quem sou,
qual o alcance de meu tamanho ?
Pois mais do que qualquer coisa
sou tudo aquilo que sonho

Marcelo Roque

sábado, 25 de junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

BRASIL ACOLHE BATTISTI

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Por Celso Lungaretti

Depois da vitória por 6x3 no Supremo Tribunal Federal, uma mais categórica ainda no Conselho Nacional de Imigração: por 14x2, o colegiado, vinculado ao Ministério do Trabalho, concedeu nesta 4ª feira (22) autorização de permanência para o escritor italiano Cesare Battisti, que poderá residir e trabalhar no Brasil, como imigrante legal, por tempo indeterminado.

Em termos jurídicos, é o ponto final dos apuros de Battisti, depois de debater-se durante sete anos num pesadelo kafkiano.

Ele deixara as fileiras da ultraesquerda italiana em 1979 e reconstruíra a vida no exílio, acabando por tornar-se um respeitado novelista na França, ao abrigo da Lei Mitterrand.

Em 2004, contudo, a Itália o escolheu como alvo de uma cruzada vingativa, aproveitando a histeria que grassava nos países do 1º mundo desde o atentado ao WTC, insuflada  ad nauseam  pela indústria cultural.
Em breve nas telas: O Incrível
Fiasco do Exército Brancaleone

Para os estadunidenses, foi uma chance de, sob falsos pretextos, invadirem países soberanos e submetê-los à sua vontade. Os italianos, mais modestos, contentaram-se em desencadear uma perseguição  tão espetaculosa quanto inútil, impingindo a lorota de que um personagem secundário dos anos de chumbo seria terrível terrorista -- tal qual, séculos atrás, queimavam mulheres fogosas como bruxas e judeus como infiéis.

Depois da bilionária campanha para fazer com que a França desonrasse o compromisso solene que assumira com os perseguidos políticos italianos, os linchadores peninsulares se transferiram com armas e bagagens para o Brasil, onde, ao lado dos quinta-colunas tupiniquins que lhes serviram de escudeiros, acabam de sofrer uma acachapante derrota.

A qual, vale repetir, é definitiva: as escaramuças legais anunciadas pela Itália não têm a mais ínfima possibilidade de alterarem o resultado do jogo após o apito final do árbitro. Servem apenas para alimentar, entre os direitistas e os videotas de lá, uma ilusão que talvez ajude a salvar o premiê Silvio Berlusconi da degola. Espero que não.

Justiça e Mídia: Indução à Violência?

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Justiça e Mídia: Indução à Violência?
Carlos A. Lungarzo
AIUSA 9152711
Quase duas semanas após a soltura de Cesare Battisti, a mídia, alguns vozeiros do STF e políticos e comunicadores do Brasil, junto com as eternas “vítimas” da Itália, estimuladas pelo aparato do estado delinquencial, continuam difundindo o ódio contra o escritor italiano, com finalidades diversas. Nem tudo é apenas loucura, despeito e necessidade de aparecer. Também há interesses econômicos, já que, entre 2007 e 2009, a aliança máfia-fascismo-stalinismo-igreja, comprou generosas parcelas de publicidade. Não é possível, é claro, encontrar um atestado que diga “Reconhecemos ter recebido suborno do senhor MV, em nome da Repubblica... etc”. Mas, o assunto é bem conhecido em meios franceses, suíços e até britânicos.
Muitas pessoas duvidam do valor das “caridades”, que, para sermos honestos, ninguém conhece exatamente, mas as altas somas que se conjeturam não são inverossímeis. O que significam alguns euros para um estado delinquencial, o número 1 em corrupção na Europa?
Mas, as agruras dos linchadores não ficaram por aí.
No dia 22 de junho, quando o Conselho de Migrações garantiu a Battisti, por um volumoso 14 contra 2 (mais uma abstenção), a viver neste país em liberdade por tempo indeterminado, a vendetta de imprensa apareceu novamente ocupando os jornais.
Após a soltura de Battisti em 8 de junho, alguns membros da magistratura (aqueles que são menos suspeitos, porque votaram em favor da soltura do escritor), insinuaram que, apesar de seus votos, ou de suas manifestações puramente jurídicas, eles consideravam Battisti culpado.
Grande parte da mídia, que lucra com o estímulo ao linchamento, vomitou seu rancor sem poupar enormes disparates. Quero apenas analisar os traços gerais de todas estas provocações e avaliar qual é o risco de que
1)      Setores políticos e judiciais estejam “abrindo caminho” para ações alternativas de grupos mercenários, nacionais ou estrangeiros, ou simples delirantes fanáticos.
2)      A mídia esteja incentivando possíveis “empreendimentos” que, com o estabelecido acima, encontraria certa “legalidade”.



Obuses Judiciários

Teria sido de bom senso que todos os juízes que agiram no julgamento da reclamação da Itália e da soltura do escritor exilado, mantivessem algum decoro após a decisão do Tribunal, evitando reaquecer os motores de vingança da imprensa. De fato, as figuras mais valiosas da Corte mantiveram silêncio ou mencionaram apenas os traços mais objetivos do processo, mas nem todos tiveram essa gentileza.


 O ressentimento de uma parte do judiciário já se percebe durante a oitiva do dia 8 de junho. Nesse dia, pode se perceber que a verdadeira fratura do tribunal deixava de um mesmo lado, a Marco Aurélio de Mello, Joaquim Barbosa e, eventualmente, Carmen Lúcia. Apesar de seu desempenho exemplar e seu confronto como o relator Gilmar Mendes, o novo juiz Luiz Fux não é suficientemente conhecido na esfera do STF para saber como teria agido no julgamento inicial de extradição em 2009.
Carmen Lúcia é uma magistrada discreta e muito precisa, mas não sabemos sua exata visão do mérito da perseguição contra Cesare. A pesar de sua conduta irretocável, é impossível para um outsider separar os fatores formais e os valores éticos que influíram em sua decisão.
Numa versão técnica em Mello, e numa mais emocional em Barbosa, houve apenas duas intepretações que colocaram em relevo os direitos humanos. Mello tinha feito uma longa análise, de perfil científico, em novembro de 2009, onde avaliou a perseguição na Itália, a influência fascista, a delação premiada, e os abusos jurídicos na Itália de Chumbo. (Em meu longo ativismo, só encontrei três ou quatro análises, todos eles na Europa, da qualidade daquele.) Também leu com precisão os relatórios de Anistia Internacional sobre a Itália dos anos 1977 a 1981. Barbosa fez algumas referências indignadas aos algozes que querem recuperar suas presas passando acima dos direitos humanos, e enfatizou, como já fizera antes, que o julgamento de uma extradição pelo Tribunal tinha como objetivo proteger o perseguido de uma provável injustiça, e não ajudar o caçador a conseguir seu butim. Joaquim representa, segundo minha opinião, a visão privilegiada de alguém que pertence a uma cultura que foi brutalmente perseguida e escravizada durante séculos.
Todavia, tanto os três propugnadores da extradição, como os dois que votaram inicialmente contra Battisti (Lewandowski e Britto), estão numa mesma linha ideológica e estratégica sobre a relação entre judiciário e sociedade. É quase certo que Lewandowski e Britto votaram pela soltura de Battisti apenas por coerência com o próprio parecer da corte de dezembro de 2009, a despeito de algumas palavras rituais que proferiu o ministro Britto sobre os direitos humanos.
O caso do relator Mendes, como aparente líder de uma coerente e articulada aliança de ultradireita, fez seu papel com toda a eficiência que se podia pedir num caso impossível. Seu gradativo azedamento durante a oitiva mostrou que sentia esgotada sua capacidade de pressão sobre os colegas. Em seu discurso, longo e redundante, mas não contraditório, acumulou todas as agressões imagináveis e os sem-sentidos de maior impacto: repetiu as invenções de Peluso da sessão de setembro de 2009 e, num crescendo de afirmações descabidas, chegou a justificar que Battisti estava amargando 4 anos de prisão “preventiva” porque ele não era um extraditando comum. “Ele cometeu quatro assassinatos”.
Faltou apenas dizer que era um ano de prisão por cada morto...
O disparate deflagrou a intervenção de Marco Aurélio de Mello, usualmente muito respeitoso, para perguntar se o STF estava aplicando a pena italiana.
A ministra Ellen Gracie, que chegara ao tribunal graças a forte proteção da ultradireita (em particular, do PSDB) é conhecida por sua vocação internacionalista. Com efeito, acumula até agora duas rejeições em suas tentativas de ocupar cargos internacionais: em 2008 não foi aceita nem como pré-candidata para uma vaga do TIJ, na Haia, e em 2009 sofreu outra rejeição na disputa por uma cadeira na parte jurídica da Organização Mundial do Comércio. Alguns experts desta Organização se sentiram ofendidos de que Brasil tivesse mandado uma pessoa que não tinha qualquer idéia sobre o que era direito comercial.
Na sessão do dia 8, fiel a esta tradição cosmopolita, elogiou a humildade da Rainha Britânica Elisabeth 2ª, fazendo crítica à pretensão do Presidente Lula de decidir sobre extradições. Aliás, em seu comentário, muito breve, mostrou ter uma opinião injuriosa sobre a Advocacia Geral da União.
 Peluso, mais fundamentalista, mas também mais inteligente que os outros, achou desnecessária uma longa peroração num caso perdido. No seu estilo de pregador/inquisidor fez tronar sua indignação e ressentimento insultuoso num breve sermão que mais parecia uma maldição contra seus inimigos e até contra seus decadentes ex-amigos. Quando acabou a sessão, o advogado Barroso pulou no estrado do presidente e perguntou, com inocultável preocupação, quando a excelência lavraria o alvará de soltura. Peluso respondeu que o faria essa mesma noite, como de fato aconteceu.
Escapava assim das garras do pretório excelso uma figura com dupla função: a de objeto de ódio do novo capitão Acab, que não conseguiu o triunfo sobre a baleia branca (Moby Dick), e a de símbolo da esquerda para o coronel fazendeiro escravocrata.
A arbitrariedade da justiça brasileira é um fato insólito em Ocidente, inclusive numa região que produziu ditaduras piores que a do Brasil, e onde há países mais pobres e com população ainda menos favorecida pela educação pública. É difícil entender o enorme primitivismo deste sistema judicial: a única explicação deve ser a marca de uma escravatura que não existiu em nenhum dos outros países da América Latina e o Caribe com tamanha intensidade, inclusive naqueles que tiveram tiranias mais sanguinárias (com a possível exceção de Haiti e Dominicana). Aliás, após a libertação dos escravos (a última no mundo ocidental), o país importou grande quantidade de europeus com identidade cultural, racial e religiosa bem definida, parte da qual acabou criando o Integralismo, e que hoje formam o coral de linchadores.
Atualmente, há vários grupos de jovens advogados tentando com grande dificuldade construir uma imagem humana e honesta do direito: uma tarefa louvável e possível, mas que tomará muito tempo, durante o qual milhares de presas continuarão alimentando a fogueira dos vingativos pretorianos.
Teria sido natural que, sendo vencidos ou vitoriosos, os ministros guardassem mesura após a votação, como reconhecimento ao fato de que o caso está encerrado, e não pode ser aberto. Mas essa atitude, assumida por vários juízes, não foi unânime. Em diversas entrevistas da imprensa, um dos ministros que votou contra a reclamação da Itália, reconheceu que se ele tivesse sido o presidente Lula, teria extraditado Battisti.
Por que o magistrado fez uma declaração tão extemporânea, tão fora de contexto? Por que devem importar, num suposto juiz neutral, suas idéias partidárias ou políticas?
Este caso acompanha a tendência de alguns membros dos poderes públicos, especialmente juízes, e também de veículos da mídia, de mostrar que a soltura de Battisti foi um erro ou (no caso deste juiz que votou a favor da soltura e se definiu em favor dela já em janeiro de 2011), uma espécie de mal necessário. Ou seja, soltar Battisti seria um erro, mas no do STF, senão de Lula.
Estas opiniões podem ser apenas desabafos, porque não há dúvida que a direita moderada votou em favor da soltura por forte obrigação e não por senso de justiça. Mas, cabe perguntar-se: seja de maneira involuntária ou não, este tipo de declarações é inofensivo???
Não será que a crítica (ou a lamentação) da soltura do escritor, SERVE COMO ESTÍMULO PARA AÇÕES EXTRALEGAIS?
Afinal, qualquer “voluntário” italiano, ou “colaborador” brasileiro, caridoso com os milhares de “vítimas” profissionais que esperam sua vendetta desde há 32 anos, poderia tentar fazer um “serviço” e, se for pego, dizer: “Até alguns juízes do Supremo acharam injusto que este cara fosse libertado”. Aí ele pode ser absolvido por alteração emocional, muito justificável em alguém que toma as dores das numerosas vítimas que a Itália coloca na mídia durante 24 horas por dia.
É necessário que os membros de grupos de solidariedade com Battisti se unifiquem na tarefa de tomar medidas para a proteção do escritor liberado. Devemos deixar de lembrar as agruras vividas, e ignorar as provocações, mas também manter nossa vigilância. Já fizemos o mais pesado, que foi derrotar o enorme poder da mídia com simples campanhas de Internet, e conseguir produzir algumas fendas na muralha de ódio levantada.
Mais de uma centena dos melhores juristas do país, dúzias dos políticos mais honestos e decididos, o setor menos alienado da cidadania, mais de 400 ONGs, todos eles apoiaram durante quatro anos a Cesare Battisti. Talvez seja necessário um esforço final, não apenas, nem principalmente, pelo escritor italiano, mas por algo mais geral: O LINCHAMENTO EXECUTADO PELA CUPULA DO STF (que durou 4 longos anos) serve de antecedente para que novas pessoas sejam vítimas no futuro.
Este não é um assunto apenas interno do Brasil. O sistema de refúgio é essencial para a sobrevivência dos direitos básicos, e foi um elemento fundamental na salvação de milhares de vidas nas América Latina, nos anos 70 e 80. Ele faz parte da estrutura jurídica da OEA, e a violação por algum poder de um de seus membros deve ser considerada uma sabotagem aos princípios humanitários do Pacto de San José de Costa Rica.
Por outro lado, é necessário que as pessoas democráticas e progressistas peçam ao MRE, uma ação verbal honrosa, em face das provocações, insultos, xingamentos e humilhações às quais a Itália submeteu o povo brasileiro e seu governo eleito por grande maioria, sem a menor reação dos diplomatas (salvo uma muito moderada de Celso Amorim em 31/12/2010, quando chamou o governo mafioso de “impertinente”).
Até em países pequenos e com democracias muito fracas, como El Salvador ou Guatemala, sabe-se perfeitamente que o direito de asilo/refúgio é uma atribuição do estado, e que a justiça pode intervir apenas por provocação do candidato a refúgio. Isto é trivial, e faz parte do ABC do direito internacional em quase todos os países. No Brasil, isto não é apenas “discutido”, mas repudiado. Uma parte expressiva do judiciário (talvez maioria) pede desculpas por não ter sido mais “gentil” com os algozes italianos. Se pensarmos no caso de Ronald Biggs, por exemplo, cujos delitos foram tipicamente comuns (assalto e roubo), veremos que até a ditadura militar foi menos truculenta que uma parte do atual judiciário.
Não deve produzir tanto espanto, então, que numerosos juízes defendam a impunidade dos criminosos de lesa humanidade, tolerem a proposta do “eterno silêncio” e sejam coniventes com o lobby militar, que foi extremamente ativo, porém discreto, durante o caso Battisti.


A Metralha da Mídia

Tanto na Itália como no Brasil, e apesar do esgotamento do assunto, a mídia não parou totalmente suas campanhas de ódio.
Quando Battisti foi liberado, tanto veículos panfletários impressos, como agentes virtuais de junk information, propagandearam com grande alvoroço que o Parlamento Europeu se unia à indignação da Itália pela soltura do escritor. Uma matéria muito significativa pode ver-se, por exemplo, aqui. A manchete da matéria de um portal brasileiro declara “Parlamento Europeu reage à libertação de Battisti” Quando o leitor se debruça sobre o conteúdo, que pertence à agência AFP, encontra que o “Parlamento” que protesta está integrado por duas pessoas: Gianni Petelli, um socialdemocrata italiano (ou seja, aquela corrente que reúnem o cinismo dos stalinistas e a covardia dos conservadores), e Mario Mauro, um aspirante a neofascista, também italiano.
Como a Europa é pequena, gente!
Entretanto, a decisão da União Europeia recusando a pretensão italiana (em 16/06/2011) teve difusão apenas na imprensa e nos sites de tipo alternativo. Com efeito, a porta-voz Viviane Reding, da Comissão de Justiça da União Europeia afirmou que “a Comissão não está envolvida na questão de forma alguma”. Vide.
É curioso que Franco Frattini, aquele ministro italiano que odeia vídeo-game, afirme que, se não obtiver resposta na Itália, continuará com sua queixa à Corte Europeia de Direitos Humanos. É verdade que os próprios “experts” europeus reconhecem a degradação e decadência da Corte, mas, será tanta? Uma coisa é rejeitar apóio àqueles que têm os direitos humanos violados, como aconteceu com a recusa do recurso de Battisti em 2005. Outra coisa é DEFENDER OS QUE VIOLAM ESSES DIREITOS.
Pode parecer incrível, mas no portal Folha.com, propriedade da Folha de São Paulo, o buscador “Battisti” não mostra nenhuma referência a um fato tão importante como a recusa europeia das exigências italianas.
A Folha de S. Paulo transcreveu com grande detalhe e pompa as queixas dos italianos pelas declarações de Lula, mas não fez o mesmo com as próprias declarações. Vejam a transcrição textual.
Autoridades italianas criticaram hoje as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os protestos contra a não extradição de Cesare Battisti são frutos da derrota eleitoral sofrida pelos partidos de direita nas eleições municipais. A ministra italiana da Juventude, Giorgia Meloni, disse que as afirmações de Lula provam que a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) brasileiro foi tomada por motivações "políticas".
Para quem não lembra a histérica patricinha, Giorgia Meloni é líder de La Giovane Italia que é a rama juvenil do partido politico Il Popolo della Libertà, que, por sua vez, é o produto do acasalamento entre Forza Itália, grupo conservador, e Alleanza Nazionale, o célebre partido neofascista. Giorgia, então, tem apenas um ½ ou talvez ¼ de fascista, o que a torna mais democrática que o resto dos políticos atualmente dentro do sistema.
"O ex-presidente brasileiro Lula deve parar de fazer campanha eleitoral com os mortos italianos, ignorando que, para boa parte da população do seu país, a decisão do Supremo Tribunal foi vista como um tapa contra a Justiça", afirmou. [Grifo meu]
Essa “boa parte” a que se refere a tardia sanbabilina, todos conhecemos. É o 2% formado pelas elites, e pela classe média de identidade européia, rancorosa e obscena, que ainda não conseguiu diferir, 8 anos depois, ter tido como o melhor presidente de sua história um operário, favelado e retirante.
 A fúria de mídia aumentou quando soube, em 22 de junho, que o conselho de migrações tinha deferido a permissão para que Cesare pudesse ficar no país por tempo indeterminado e exercesse sua posição.
O involuntário ou calculado cheiro de sangue atingiu até veículos que tinham sido neutrais. O canal da Record mostrou sempre muito equilíbrio. O mesmo dia da libertação de Cesare, li um e-mail muito atencioso de Murilo, um jovem jornalista, que me convidou a dizer algumas palavras no programa da noite do canal. Lamentavelmente, li a mensagem com grande demora. No dia 22, pouco após meio-dia, o Canal comentou o diferimento da permanência de Battisti, com aparente isenção. No entanto, escutou-se em off, uma voz feminina dizendo: “Que absurdo”!
O editor do programa deveria ter cuidado com estes colaboradores, não em censura à liberdade de opinião, mas, pelo contrário, em homenagem a ela. Quem pretende ser um bom veículo, como parece a intenção da Record, deve evitar mensagens de ódio.
A BAND, modelo daquela mídia que magistralmente retrata Marco Bellocchio em seu filme Sbatti il monstro in Prima Página, excedeu seu próprio desempenho na produção de junk data, algo difícil de acreditar. Num programa de notícias, disse o seguinte:
As pessoas de bem no Brasil serão obrigados a conviverem com o assassino Cesare Battisti.
Nossa!!! Quanto perigo!
Supondo que Battisti fosse realmente um assassino, quanto perigo representaria para 200 milhões de habitantes, num país onde a polícia mata mulheres e crianças das favelas em quantidades que nem os organismos internacionais conseguem contar? Será que agora aumentarão os crimes no Brasil, que as pessoas deverão trancar as portas de suas casas, que as gangues se multiplicarão, pois o super-homem do mal foi admitido no Brasil?
É verdade que BAND é um estilo de junk-media frequente na Argentina, Paraguai e outros países, mas é raro no Brasil, onde a TV, mesmo a que está mais à direita, evita desatinos e mantém uma linha formalmente decente. O canal é mestre em programas onde se mostram litros de sangue saindo de um batedor de carteira, e onde as âncoras brindam ao assistente sua própria opinião, porque, afinal, para que querem saber a notícia objetiva?
 (Uma dessas âncoras foi recentemente frustrada em seu intento de calar a boca do corajoso jornalista Celso Lungaretti).
 Devemos esperar um tempo até ver como se recompõe o panorama. A mídia de esquerda e as pessoas progressistas em geral devem ajudar também com sua calma e sua visão racional do mundo. Devem entender que os movimentos de esquerda italianos já fizeram muito por um mundo melhor, e se foram derrotados, foi porque o fascismo, a máfia, a igreja e os Estados Unidos são forças muito poderosas.
Nossos amigos devem entender que Cesare Battisti é um escritor que produziu mais de 20 livros e muito ajudou ao esclarecimento da sociedade. Ele fez uma grande tarefa cultural no México, a Nicarágua e a França. Portanto, ele merece não ser obrigado a lembrar novamente um passado torturante. Sua presença no Brasil deve ser recebido por nós como o México recebeu nos anos 80 como refugiado ao famoso Gabriel Garcia Márquez, que, por sinal, foi um dos primeiros intelectuais que se manifestou em favor de Cesare. Educar as pessoas é também uma forma de militância, e foi por isso que ele foi tão perseguido.
A paranoia é um grande inimigo, e devemos manter serenidade, especialmente tendo em conta que o governo anterior e o atual mostram disposição a respeitar o direito internacional. Devemos nos limitar a manter a atenção acessa, sem radicalismo e sem precipitação, mas também sem torpor. Os muitos agentes do ódio de todos os estilos acabarão se cansando. Como dizia o movimento negro americano:
Os geradores de ódio acabam se esgotando moralmente, porque suas vítimas não podem ser derrotadas, e o resto da sociedade os despreza.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Leve isso em consideração - Política - corrupção - revolta - ação

A FORÇA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ATUAIS ,TEM TUDO A VER COM A ORGANIZAÇÃO DAS PESSOAS VIA INTERNET !!

O BEIJO - MARCELO ROQUE




O Beijo

Fechemos os olhos para o mundo
enxerguemos apenas nós
Esqueçamos os nossos nomes
silenciemos a nossa vozhttp://www.blogger.com/img/blank.gif
Para que assim por um instante
por conta do imenso desejo
deixemos de ser quem somos
e nos tornemos apenas beijo

Marcelo Roque

Http://recantodasletras.com.br/autores/marceloroque

O LIVRO SOBRE O BACURI E OUTRAS NOVAS DOS COMPANHEIROS DE IDEAIS

Depois de vários anos de pesquisas, tendo entrevistado 40 veteranos da resistência à ditadura militar, a companheira Vanessa Gonçalves está lançando a biografia Eduardo Leite Bacuri, pela Plena Editorial.

Um bom aperitivo é a extensa reportagem da IstoÉ 109 dias de tortura, da qual extraí este trecho:
"No Dops, Bacuri passou por uma experiência incomum – e macabra – mesmo para os padrões da ditadura. Ali, depois de massacrado fisicamente, ele leu sua sentença de morte.

No sábado 26 de outubro, os jornais noticiaram a morte de Joaquim Câmara Ferreira, militante da Ação Libertadora Nacional, e afirmaram que Bacuri havia sido levado da prisão para fazer o reconhecimento do corpo. Nessa operação, segundo as publicações da época, Bacuri tinha conseguido fugir e desapareceu.

Ao ver a notícia impressa nos jornais, ele teve a certeza de que jamais sairia vivo da prisão – era o álibi que os militares precisavam para assegurar que Bacuri não estava sob jugo da ditadura e, sim, foragido.

A triste ironia da história é que ele sequer andava. Graças à violência dos policiais, apenas quatro dias depois de ser preso o militante perderia para sempre o movimento das pernas".
O companheiro jornalista Rui Martins deu contribuição inestimável à luta pela liberdade de Cesare Battisti, como seu principal porta-voz no momento mais difícil, quando poucos se davam conta do que estava realmente ocorrendo e parte da esquerda era iludida pela pregação (tão rancorosa quanto falaciosa) de Mino Carta, inimigo visceral dos ideais de 1968 e daqueles que os expressam.

Depois que passei a priorizar a causa do Cesare, no final de 2008, o Rui pôde voltar seus esforços  mais para o Estado dos Emigrantes, que também foi uma bandeira erguida e popularizada principalmente (melhor seria dizer  quase que exclusivamente) por ele.

Agora, entretanto, o Conselho do Emigrante, criado pelo Itamaraty, tem um presidente que, eleito "pelos votos obtidos (de) cerca de 0,01% da população emigrante", encarna "a ideologia da intolerância, do pensamento único e da mordaça, inspirada em processos inquisidores de regimes ditatoriais", afirma o Rui, uma das vítimas "do expurgo instaurado dentro do Conselho".

Recomendo a todos que leiam atentamente o candente artigo Clima de IPM no Itamaraty, repassem, divulguem por todas as formas e façam tudo que puderem para ajudar o bravo guerreiro Rui Martins, Ele merece.

No artigo Cumpra-se a sentença inteira, quatro destacados defensores dos direitos humanos (Anivaldo Padilha, Marcelo Zelic, Roberto Monte e Vicente Roig) exigem que o Estado brasileiro não se limite a publicar a decisão da Corte Interamericana sobre as torturas e execuções cometidas pela ditadura militar no Araguaia, mas vá ao fulcro da questão: 
"A apuração dos fatos e a responsabilização dos culpados pelos assassinatos, torturas e desaparecimentos forçados, entendidos na jusrisprudência da Corte Interamericana como crimes de lesa-humanidade, TAMBÉM TEM DE SER cumprida pelo Estado".
Defendem:
  • "o respeito aos tratados internacionais presentes em nosso ordenamento jurídico";
  • a revisão da decisão do STF que validou a anistia autoconcedida pelos carrascos;
  • a alteração da Lei de Anistia, com a aprovação do projeto de lei da deputada Luiza Erundina que lhe dá nova interpretação; e
  • o "fim do sigilo eterno".
Segundo eles, "é impensável para os defensores de direitos humanos que o Governo de nossa presidenta Dilma Rousseff insista em remar contra a corrente da evolução dos direitos humanos e da luta contra os crimes de lesa-humanidade no continente e procure esconder embaixo do tapete a impunidade que tanto tem prejudicado nosso país!".

O site Megafone, com foco na cidadania e no jornalismo participativo, vai lançar nesta 2ª feira (20/06), em Foz do Iguaçu, o Nosso Tempo Digital. O projeto consiste na digitalização do acervo do jornal Nosso Tempo, publicação dos arquivos na internet e montagem de exposição.

Lançado em 3 de dezembro de 1980, com uma corajosa capa denunciando a tortura em órgãos de segurança da cidade, o semanário Nosso Tempo se tornou um marco da resistência jornalística à ditadura militar, com alcance nacional.

Faziam parte da equipe de editores e redatores do periódico os jornalistas Aluízio Palmar, Adelino de Sousa e Juvêncio Mazarollo.
 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

DE RECUO EM RECUO ACABA-SE CAINDO NO ABISMO


O Supremo Tribunal Federal decidiu em abril de 2010 que uma tirania pode anistiar a si própria.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos, no final do ano, reafirmou o entendimento civilizado da questão: não pode, caso contrário os déspotas e seus esbirros nunca mais serão punidos em lugar nenhum. Só os governos democráticos subsequentes têm legitimidade para julgar os crimes cometidos pelos agentes do Estado durante o período de exceção.

A OAB entrou com recurso questionando a decisão do STF à luz da manifestação posterior da Corte Interamericana. E o Governo Federal ficou ao lado do STF, contra a Corte (que, embora sendo um órgão judicial autônomo, geralmente tem suas decisões acatadas pelos países membros da OEA).

Assim, o parecer do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, alinhou-se com a inacreditável decisão do STF de não rever a anistia de 1979 -- aquela que igualou as vítimas a seus carrascos.

Tratou-se de mais um recuo chocante da presidente Dilma Rousseff, depois de ceder à direitalha também na questão do sigilo eterno dos documentos oficiais ditos ultrassecretos (nesse balaio caberá tudo que se quiser colocar...).

Foi o pior desfecho possível: avalizou-se uma aberração jurídica e política, legando um péssimo precedente aos pósteros.

Melhor teria sido um pacto entre os interessados, no sentido de se rever, sim, a Lei da Anistia, para determinação inequívoca da responsabilidade de quem ordenou, executou ou consentiu que fossem cometidas todas aquelas atrocidades; mas, com o Estado brasileiro, em seguida, utilizando sua prerrogativa de não punir tais monstros, em razão, digamos, de motivos de ordem humanitária.

Vamos abrir o jogo: a alta oficialidade ganhou no grito, fazendo o governo crer que as Forças Armadas não admitiriam o encarceramento ou a imposição de penas pecuniárias aos Ustras e Curiós.

Cheira a blefe -- os oficiais mais jovens dificilmente arriscariam suas carreiras para solidarizarem-se a tão execrados gorilas --, mas Lula não quis e Dilma não quer pagar pra ver.

É patético, contudo, que não se tenha chegado a um epílogo menos vexatório para o Brasil.

A prisão dos torturadores e a oficialização de sua impunidade eram os extremos; faltou engenharia política que viabilizasse um meio termo.

Rendição incondicional nunca foi a melhor atitude para um governo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

"FOLHA DE S. PAULO": ARROGÂNCIA SEM LIMITE

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Por Celso Lungaretti

A Folha de S. Paulo colocou num editorial que Cesare Battisti, no Brasil, "despertou uma solidariedade fora de época e de propósito entre ex-militantes de esquerda e antigos adeptos da luta armada".

Solicitei direito de resposta à Folha, provando  ad nauseam  que era eu quem melhor se enquadrava, simultaneamente, nessas três especificações (ser ex-militante de esquerda, antigo participante da resistência armada à ditadura militar e figura destacadada dos movimentos de solidariedade a Cesare Battisti).

Não vem sequer ao caso se a Folha quis mesmo se referir a mim ou a convergência para meu perfil foi casual. O certo é que, sendo uma pessoa conhecida, muitos haveriam de ver em mim -- e viram! -- o alvo de tal citação.

E, até como o idoso que eu não poderia deixar de ser (na condição de veterano de uma luta travada quatro décadas atrás), não me agrada nem um pouco ser confundido com alguém que perdeu a noção do presente e desperdiça seu tempo com iniciativas despropositadas. O linguajar eufemístico não altera nem atenua o conceito, que é óbvio:  velho caduco.

Pedi, portanto, espaço para expor aos leitores da Folha os motivos que me levaram a assumir a defesa pública de Battisti e, assim, dar-lhes possibilidade de avaliar se tais motivos eram plausíveis e pertenciam a esta época.

A resposta da ombudsman foi patética: ofereceu-se para encaminhar uma mensagem resumida que eu escrevesse à seção de cartas de leitores, ou um artigo aos editores de Opinião, enfatizando carecer de poder para determinar sua publicação ou não.

Obrigado por nada: em poucos minutos qualquer pessoa com inteligência mediana consegue levantar os respectivos e-mails e, assim, enviar seu texto a uma ou outra seção.

Quando alguém recorre à ombudsman queixando-se de haver sido atingido por algo publicado, cabe a  ela providenciar a retificação com igual destaque ou provar a improcedência da reclamação. Alegar que não tem poder para desempenhar sua missão é vexatório para ela e para a Folha.

Ante minha insistência, ela se saiu com este arremedo de argumentação: "não se trata de direito de resposta já que o seu nome não foi citado".

Se o nome de um cidadão não é mencionado, mas se trata de figura pública e a descrição da pessoa insultada corresponde exatamente à sua, negar-lhe o direito de resposta seria abrir a porta para todo tipo de ataques dissimulados e covardes.

Caso eu disparasse as piores ofensas contra "um barão da mídia" que cedia viaturas para o trabalho imundo dos torturadores e "seu filho" que esmerou-se em atenuar atrocidades ditatoriais... precisaria citar nomes?

E, não citando nomes, ficaria totalmente isento de responsabilidade por minhas afirmações?

Caracterizou-se, enfim:
  • a inexistência de direito de resposta para quem, como eu, não se verga aos constantes estupros das boas práticas jornalísticas por parte da Folha;
  • a inexistência de ombudsman na Folha, salvo como figura decorativa;
  • e a existência de um  house organ  da direitalha ocupando o espaço que um dia foi de um verdadeiro jornal, sob o comando do inesquecível Cláudio Abramo.

Obs.: o editorial citado e todas as mensagens trocadas podem ser acessados em DIREITO DE RESPOSTA DESFEITO; e violações  anteriores das normas jornalísticas por parte da mesma empresa, em MINHA LUTA SEM FIM CONTRA A FOLHA DE S. PAULO.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

PASSAGEM - MARCELO ROQUE



Passagem

Venho de longehttp://www.blogger.com/img/blank.gif
De bem longe de mim
Tenho-me apenas como passagem
Em breve perco-me de vista

Marcelo Roque


Http://recantodasletras.com.br/autores/marceloroque